Cordoalhas Tendíneas: classificação

Em um dos diversos canais que a escola tem nas redes sociais, recentemente surgiu uma discussão sobre o entendimento da subdivisão das cordoalhas tendíneas. Então, aproveitando essa “deixa”, vamos fazer uma breve revisão anatômica dessas estruturas. 

Antes de falar das cordoalhas propriamente ditas, temos que relembrar um pouco de como a valva mitral é anatomicamente organizada. 

Primeiro, o anel valvar (ou ânulo valvar) constitui uma estrutura fibromuscular através da qual os folhetos anterior e posterior se fixam. Possui formato em “sela” à ecocardiografia tridimensional, onde os segmentos mais baixos se encontram ao nível das comissuras anterolateral e posteromedial. Este formato permite uma acomodação dos folhetos durante a sístole, minimizando o estresse parietal.  

O ânulo valvar mitral pode ser dividido em anterior e posterior, baseado na inserção do folheto correspondente. 

Já os folhetos valvares (anterior e posterior) possuem, uma zona de superfície lisa (smooth zone) e outra zona de superfície dita “rugosa” (rough zone), onde se conectam aos músculos papilares através das cordoalhas tendíneas

 O folheto posterior tem formato quadrangular e se adere à aproximadamente 3/5 da circunferência do anel valvar. O folheto anterior, por sua vez, tem um formato semicircular e se adere aos 2/5 restantes da circunferência do anel valvar. Apesar de circunferencialmente “ocupar” uma região maior do anel valvar, o folheto posterior é menor quando comparado com o folheto anterior.  

Como de conhecimento, os folhetos valvares são subdivididos em scallops de acordo com a segmentação proposta por Carpentier

As cordoalhas tendíneas são responsáveis por determinar a posição e a tensão de ambos os folhetos durante o final da sístole ventricular. São extensões fibrosas que se originam dos músculos papilares, mas também, de forma menos frequente, podem ter origem na parede inferolateral do ventrículo esquerdo. 

Dentre as diversas classificações propostas, podem ser nomeadas de acordo com o local de inserção na face ventricular dos folhetos valvares. As cordoalhas ditas “primárias” (ou de primeira ordem) se inserem na margem livre dos folhetos e ajudam a prevenir o prolapso valvar.  

As cordoalhas “secundárias” (intermediárias ou de segunda ordem) se inserem na superfície ventricular esquerda dos folhetos, prevenindo que os folhetos “ondulem” durante a redução da tensão de acordo com o momento do ciclo cardíaco.  

As cordoalhas “terciárias” (ou basais) são aquelas que se inserem na base dos folhetos ou no anel valvar propriamente dito. Alguns autores consideram como terciárias aquelas cordoalhas que se originam da parede ventricular (e não dos músculos papilares). Sua função específica ainda é incerta.  

Apesar de haver diversas classificações, a importância prática desta divisão é que, em uma eventual lesão de cordoalha tendínea, a ruptura das cordoalhas primárias pode levar a eversão (flail) do folheto valvar (vídeo). Já na lesão de cordoalhas secundárias, o flail comumente não ocorre.

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