MIOCARDIOPATIAS: síndrome de Takotsubo

A síndrome de Takotsubo é conhecida por sua disfunção ventricular esquerda aguda e reversível, mimetizando a clínica de infarto agudo do miocárdio (IAM).

Existem variantes anatômicas, entretanto todas se apresentam com disfunção simétrica e circunferencial dos segmentos acometidos.

Além da conhecida disfunção ventricular, esta síndrome também pode cursar com obstrução à via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE), trombo apical e insuficiência mitral (pelo movimento sistólico anterior da valva mitral – SAM ou por disfunção de músculo papilar), achados estes considerados como preditores independentes de mal prognóstico.

O desenvolvimento desta condição está relacionado com a resposta miocárdica peculiar a uma liberação excessiva de catecolaminas circulantes por um fator desencadeante (estresse físico ou, mais comumente, emocional).

Uma hipótese proposta seria que altas doses de epinefrina induziriam efeito inibitório direto sobre os receptores B2-adrenérgicos, iniciada por um acoplamento ao mensageiro inotrópico negativo Gi, por um processo negativo, conhecido por stimulus trafficking (a quantidade desses receptores na região apical do ventrículo esquerdo é maior do que na base, fato este observado em corações de mamíferos).

Outros possíveis mecanismos citados são: a disfunção microcirculação coronariana, o atordoamento miocárdico de causa neurológica e o espasmo difuso de artérias epicárdicas.

Existem descrições de algumas formas anatômicas da síndrome:

  • Hipocinesia apical e médio ventricular circunferencial com hipercontratilidade dos segmentos basais (50-80%)
  • Takotsubo invertido: hipocinesia circunferencial basal e hipercontratilidade apical (nutmeg ou artichoke)
  • Médio-ventricular: hipocinesia circunferencial dos segmentos médios e hipercontratilidade basal e apical (“vaso grego”)
  • Biventricular (1/3 dos casos)

O ecocardiograma é capaz de detectar as alterações segmentares que se estendem além do território de distribuição de uma artéria coronariana. Esse método evidencia o padrão de acometimento ventricular, suas variantes anatômicas e as complicações (trombo apical, obstrução da VSVE, insuficiência mitral, envolvimento do ventrículo direito e ruptura ventricular).

Ainda tem papel importante no acompanhamento da função ventricular (a recuperação das alterações segmentares não é uniforme, simétrica, como o acometimento inicial).

O uso de contraste ecocardiográfico auxilia na avaliação de trombos em pacientes com janela acústica inadequada, ratifica as alterações segmentares e é útil nos pacientes que não possam fazer cinecoronariografia de modo imediato.

Aproximadamente 1/3 dos pacientes com Takotsubo apresenta insuficiência mitral aguda por movimento sistólico anterior da valva mitral associado à obstrução da VSVE. Outro mecanismo citado seria o tethering do folheto por deslocamento do músculo papilar, causado por alteração regional do VE ou por disfunção do músculo papilar. A ruptura de parede livre ou perfuração do septo interventricular é uma complicação rara (<1%).

Em relação ao envolvimento do ventrículo direito, pode-se encontrar acinesia ou hipocinesia da parede livre, poupando o segmento basal com ou sem acometimento do ápice.

Mulher idosa, internada por sintomas respiratórios e com suspeita de COVID-19, evoluiu com dor epigástrica associada a êmese. Eletrocardiograma com alterações isquêmicas e curva de troponina positiva.

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