
Em pacientes com pericardite constritiva, uma redução do strain longitudinal é caracteristicamente observada nas regiões da parede livre do ventrículo esquerdo (VE) poupando, de forma relativa, o strain na região septal. Essa alteração gera um padrão característico ao mapa polar (Bull´s eye) denominado “hot septum“.
Vamos exemplificar ????

Homem, 78 anos de idade, com história de dispneia progressiva iniciada há 02 semanas, além de diminuição do apetite, distensão abdominal e edema em membros inferiores.
Apresentava-se com pressão arterial de 135 x 80 mmHg, frequência cardíaca de 91 bpm e SpO2 de 96% em ar ambiente. Ao exame, turgência jugular patológica, ascite e edema periférico graduado em 4+.
04 semanas antes da admissão, o paciente havia sido hospitalizado por dispneia de início recente, sendo documentado um derrame pericárdico moderado a importante. Foi realizado, à ocasião, drenagem do derrame, com análise citoquímica mostrando padrão inflamatório, com diagnóstico presumido de pericardite idiopática. Naquele momento, recebeu alta em uso de AINEs e Colchina.
O paciente, agora, realizou novo ecocardiograma cujo resultado demonstrou espessamento pericárdico, com presença e ecos com densidade de tecido (soft echo) no espaço pericárdico, de forma mais proeminente na parede inferior do ventrículo direito (> 2 cm).

A veia cava inferior estava dilatada e sem variabilidade inspiratória, sugerindo aumento da pressão atrial direita.

A avaliação da mobilidade do septo interventricular mostrou movimento assincrônico (bounce) a cada ciclo.

A fração de ejeção do VE era de 59%, com a análise do Doppler demonstrando uma variação > 30% da velocidade do fluxo transmitral, além de onda e´ septal com velocidade preservada. Havia, ainda, fluxo reverso expiratório diastólico em veia hepática.

A análise do strain do VE mostrou preservação relativa do strain circunferencial (A) médio ventricular (23%) e strain global longitudinal (B) de 18.6%, porém com variação segmentar significativa.

O padrão de alteração segmentar observado foi compatível com uma preservação do strain na região septal (hot septum) e valores reduzidos nos segmentos anterolateral e inferolateral. O diagnóstico de uma fisiologia constritiva foi realizado com bases nos achados citados.
Foi iniciada, então, terapia com corticosteróides, com o paciente apresentando boa evolução clínica e completa reversão sintomática.
Uma avaliação posterior, realizada 03 meses depois, mostrou diminuição significativa do espessamento pericárdico e ausência de sinais de restrição, além de aumento do valor do strain global longitudinal para 21.3% com melhora da deformação nos segmentos inferolaterais (C).
Esse padrão de alteração regional já é amplamente descrito na literatura e pode ser explicado pela aderência da parede livre do VE ao pericárdio espessado, bem como pelo envolvimento do miocárdio adjacente por contiguidade.

Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.