Técnicas para a Correta Avaliação da Função Diastólica do Ventrículo Esquerdo

Na maioria das cardiopatias, a primeira função ventricular a se alterar é a diastólica. Sua avaliação ecocardiográfica envolve diversos parâmetros que, combinados, resultam em três principais classificações possíveis de disfunção: alteração de relaxamento, pseudonormal e restritiva. Porém, em alguns pacientes, podemos obter resultados inconclusivos; situação frustrante para o ecocardiografista e o clínico que solicitou o exame. 

Para minimizar os erros de classificação e reduzir o número de avaliações inconclusivas, é importante atentarmos às técnicas de obtenção dos dados a serem avaliados. A seguir, farei um breve resumo prático de como obter a maioria dos dados necessários para esta avaliação (valores de referência e interpretação de dados não serão o foco desta revisão). 

Curva do Fluxo Mitral 

  • Obter janela apical de 4 câmaras
  • Posicionar volume amostra (que deve medir de 2 a 4 mm) nas extremidades dos folhetos da valva mitral, em diástole 
  • Utilizar Doppler pulsátil 
Figura 1. Volume amostra posicionado nas extremidades das cúspides da valva mitral na diástole.
Figura 2. Curva de fluxo mitral, obtida com Doppler pulsátil.

Cálculo do Tempo de Relaxamento Isovolumétrico (TRIV): tempo entre o fechamento da valva aórtica e abertura da valva mitral

  • Obter janela apical de 5 câmaras
  • Posicionar volume amostra na via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE), próxima à cúspide anterior da valva mitral, para registrar simultaneamente os fluxos das vias de entrada e saída do VE 
  • Utilizar Doppler pulsátil 
Figura 3. Posicionar volume amostra na via de saída do ventrículo esquerdo, próximo ao folheto anterior da valva mitral e utilizar o Doppler pulsátil. Medir o tempo do final da curva de ejeção aórtica até o início da onda E.

Cálculo da duração da onda A mitral

  • Obter janela apical de 4 câmaras
  • Posicionar volume amostra no nível do anel mitral  
  • Utilizar Doppler pulsátil 
Figura 4. Posicionar volume amostra ao nível do anel mitral.

Manobra de Valsalva

  • Obtemos a curva de fluxo mitral basal e após manobra de Valsalva. 
  • Atentar para o reposicionamento do volume amostra do Doppler pulsátil nas pontas das cúspides da valva mitral
Figura 5. Se necessário, reposicionar volume amostra para as extremidades dos folhetos mitrais na diástole para capturar as máximas velocidades do fluxo mitral.

Fluxo das Veias Pulmonares 

  • Utilizar o plano apical de 4 câmaras com discreta angulação anterior para que parte da valva aórtica fique aparente 
  • Posicionar o volume amostra (que pode medir até 4 mm) entre 1 e 2 cm da desembocadura da veia pulmonar superior direita 
  • Utilizar o Doppler colorido com limite de Nyquist regulado para baixas velocidades (<40 cm/s)
Figura 6. Reduzir o limite de Nyquist e posicionar volume amostra entre 1 a 2 cm da desembocadura da veia pulmonar superior direita.

Doppler Tecidual 

  • Atentar para uma angulação máxima entre o cursor e o plano do movimento cardíaco de no máximo 20%, ou seja, manter o cursor o mais paralelo possível ao movimento do anel mitral 
  • Utilizar velocidade de varredura entre 50 e 100 mm/s
  • O volume amostra deve medir entre 5 e 10 mm e deve estar exatamente em cima do anel valvar (lateral e medial)
  • Realizar as medidas em 3 batimentos consecutivos ao final da expiração 
Figura 7. Alinhar o cursor o mais paralelo possível em relação ao movimento do anel mitral.
Figura 8. Curva de Doppler tecidual obtida no anel mitral medial.

Velocidade de Propagação do Fluxo Mitral 

  • Obter janela apical de 4 ou 2 câmaras
  • Alinhar o cursor no modo-M, passando pelo centro do átrio esquerdo, orifício mitral e ápice do ventrículo esquerdo, guiando-se pelo fluxo transmitral demonstrado pelo Doppler colorido 
  • Estabelecer velocidade de varredura entre 100 e 200 mm/s e velocidade de aliasing entre 40 e 60 cm/s
Figura 9. Modo-M colorido do fluxo de entrada mitral, utilizando janela apical de 4 câmaras, com cursor alinhado ao fluxo colorido do átrio esquerdo, orifício mitral e ponta do ventrículo esquerdo.

É isso, pessoal! Espero ter ajudado a tirar algumas dúvidas sobre a correta obtenção dos dados necessários à interpretação da função diastólica do VE. Os valores de referência, os índices calculados a partir destes dados e a classificação da disfunção serão discutidos em outros posts. Se você tem alguma dúvida ou sugestão, deixe nos comentários! Compartilhe o conteúdo!

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Djair Brindeiro Filho

Excelente!

Ananda Santos

Muito boa explicação! Parabéns!

ALEXANDRE ALVES NEVES

Excelente

Milton

Excelente.

Andreia

Gostei do seu poste, existe muitos artigos em seu blog relacionado a este que acebei de ler gostei de seu blog.
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