Embolia gasosa é uma condição clínica dramática, comumente iatrogênica, cujo diagnóstico é desafiador, sendo na maioria das vezes considerado de exclusão.
Apesar da possibilidade de ocorrer em território arterial, a embolia gasosa normalmente ocorre na circulação venosa, à medida em que há entrada de ar (ou outro gás, como CO2, óxido nitroso) no leito intravascular com embolização para as câmaras cardíacas direitas e artéria pulmonar. Na presença de algum shunt, pode haver embolia paradoxal.
Na embolia por CO2, por exemplo, ao chegar nas câmaras cardíacas direitas, as moléculas deste gás irão agir como uma barreira, limitando/impedindo o fluxo sanguíneo na via de saída do ventrículo direito (VD). Isto resultará, de forma rápida e progressiva, em disfunção do VD, hipertensão pulmonar, com evolução para um colapso cardiovascular (por redução do débito cardíaco) se não prontamente revertida.
Deve ser suspeitada na presença de hipoxemia de início rápido, taquidispneia e hipotensão, especialmente após a realização de algum procedimento invasivo, como punção venosa central e até mesmo durante a realização do pneumoperitonio nas cirurgias videolaparoscópicas (é muito raro, mas pode acontecer!).
Como normalmente acontece de forma iatrogênica e em ambiente hospitalar, a ecocardiografia pode ser uma ferramenta importante para auxiliar no diagnóstico, uma vez que é um método portátil e de rápida aplicação.
Além de demonstrar as repercussões hemodinâmicas pela documentação da disfunção do VD, aumento das câmaras direitas e de artéria pulmonar, bem como pela o aumento da pressão sistólica (PSAP), e ainda um ventrículo esquerdo hiperdinâmico (pelo baixo fluxo), é possível visualizar a presença de ar nas câmaras direitas (é um “teste de macrobolhas espontâneo”). Desta forma, o ecocardiograma (seja transtorácico ou transesofágico) é considerado um método de alta sensibilidade para este diagnóstico.
Vídeo demonstrando presença massiva de bolhas chegando nas câmaras direitas após procedimento de punção venosa central, com diâmetro basal do VD de 4,8 cm e clara disfunção contrátil.
Aqui, um caso de embolia gasosa por CO2 após realização de pneumoperitonio para resseção de tumor hepático (colangiocarcinoma). A fonte emboligênica provável foi circulação colateral de parede abdominal (paciente hepatopata crônico).
Ecocardiograma transesofágico, janela 5C no esôfago médio (0°) demonstrando presença significativa de conteúdo ecodenso (bolhas) nas câmaras direitas e o ventrículo esquerdo com volume sistólico mínimo (literalmente quase seco), com obliteração sistólica.
Vias de saída e de entrada do ventrículo direito com grande quantidade de conteúdo gasoso.
05 minutos após resolução (no caso, conversão para cirurgia convencional “aberta”). Além do quase desaparecimento das bolhas, observem a mudança de movimentação do septo interatrial, sugerindo redução das pressões em câmaras direitas.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.