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Na postagem anterior falamos sobre embolia gasosa e como a ecocardiografia pode atuar como ferramenta diagnóstica. Aproveitando a sequência, resolvi revisar o papel do ecocardiograma em outra situação crítica: embolia gordurosa.
Embolia gordurosa é definida pela presença de glóbulos de gordura na circulação pulmonar, independente das repercussões clínicas/hemodinâmicas. Já a síndrome da embolia gordurosa se caracteriza pela documentação da embolia associada à presença de sintomas.
É uma condição clínica rara, fortemente associada a traumas ortopédicos, sobretudo na presença de fraturas de ossos longos das extremidades inferiores (particularmente o femur). Tem incidência estimada em <1% e até > 30%, refletindo sua heterogenicidade e dificuldade diagnóstica (justificando dados dão discrepantes!).
Dados do National Hospital Discharge Survey indicam a presença da síndrome da embolia pulmonar em 0.17% pacientes com fraturas ortopédicas (isoladas ou múltiplas), com aumento de 0.54% na incidência quando na presença de fratura isolada do femur e de 1.29% na presença de múltiplas fraturas, incluindo de femur. O risco é aumentado nos pacientes entre 10-40 anos de idade e acomete mais homens que mulheres.
Apesar da forma manifesta ser rara, em estudo de autópsia, a presença de embolia pulmonar gordurosa foi identificada em 82% de pacientes que sofreram algum trauma. Dentro desta população, o mesmo foi observado em 88% dos pacientes que foram submetidos a manobras de ressuscitação cardiopulmonar.
Clinicamente se manifesta como disfunção orgânica múltipla, 12 a 72 horas após o insulto inicial. Hipoxemia (96%), alteração neurológica (86% – déficit focal, desorientação, letargia, agitação e coma) e petéquias são a tríade clássica da síndrome da embolia gordurosa. Dispneia, taquipneia e insuficiência respiratória são as manifestações pulmonares mais comuns.
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As petéquias podem ser localizadas nas conjutivas, região cefálica, pescoço, face anterior do tórax ou axilas. Retinopatia também pode ser um achado frequente.
Existe um critério proposto Gurd para o diagnóstico desta síndrome, apesar de não ser amplamente validado na literatura. O diagnóstico se dá na presença de 01 critério maior + 04 critérios menores:
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O ecocardiograma irá demonstrar aumento da pressão sistólica da artéria pulmonar, aumento de câmaras direitas, com disfunção do ventrículo direito (VD). O sinal de MacConell pode estar presente, mas aqui vale destacar que é possível a visualização de partículas gordurosas chegando nas câmaras direitas através da veia cava inferior.
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Normalmente são vistas como microesferas, com ecogenicidade levemente aumentada, medindo aproximadamente 3 mm.
Agora vejam só que caso interessante e atípico que encontrei durante minhas pesquisas para esta publicação:
Paciente homem, 71 anos de idade, com passado de doença arterial coronariana e portador de osteoatrite, foi submetido a cirurgia eletiva para implante de prótese de quadril à direita (cabeça de femur). Durante a cirurgia, evoluiu com infarto agudo do miocárdio e realizou angioplastia com implante de stent farmacológico na artéria coronária direita.
Na avaliação de rotina, após 02 meses, o paciente permanecia assintomático. Realizou um ecocardiograma com estresse e, durante o pico de exercício, foi observado a presença de pequenas bolhas ecodensas no VD.
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Diante da suspeita de embolia gordurosa, foi optado por realizar novo ecocardiograma, agora com estresse físico em cicloergômetro, porém com avaliação individual de esforço em cada perna.
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A presença de pequenas bolhas ecodensas foi apenas visualizada durante o exercício com a perna direita (a mesma da cirurgia), e não com a perna esquerda. A embolia gordurosa foi confirmada após realização de cintilografia com tecnécio-99m, sem evidência de tromboembolismo pela tomografia computadorizada de tórax.
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O mesmo achado foi demonstrado em novo ecocardiograma 4 meses depois, porém com menor intensidade. O seguimento de 6 meses, não foram mais observadas bolhas. Este caso ilustra um caso de embolia gordurosa, mas não da síndrome da embolia gordurosa.
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Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.