Cortriatriatum é uma alteração congênita cardíaca rara (<0.1%), reportada pela primeira vez em 1869 por W.S. Church como um átrio esquerdo dividido por um septo anormal. Com o advento da ecocardiografia bidimensional, esta condição foi, então, caracterizada como uma membrana transversal presente no átrio esquerdo. Até aqui, tudo bem! Já, inclusive, fizemos uma postagem sobre esse assunto (clique aqui).
Acontece que, em alguns casos, o grande diagnóstico diferencial deste achado se faz com a membrana (anel) supravalvar mitral. Na prática, essa diferenciação pode não ser tão fácil, contudo, seguem aqui algumas referências anatômicas que ajudam no diagnóstico destas duas condições distintas:
- No cortriatriatum, o átrio esquerdo fica dividido, por uma membrana, em duas cavidades: câmara superior (ou proximal) em que as veias pulmonares se encontram; e distal (verdadeira) onde estão o apêndice atrial esquerdo e fossa oval.
A membrana, nestes casos, deve ser descrita em relação à presença de fenestrações. Estas podem variar de tamanho e em número, além da localização, que pode ser excêntrica ou central. Normalmente, o diâmetro da fenestração costuma ser < 1 cm e existe uma subdivisão, em 3 grupos, baseado na quantidade e tamanho das fenestrações:
Grupo 1: ausência de conexão entre as duas câmaras (proximal e distal);
Grupo 2: presença de 01 ou algumas pequenas fenestrações na membrana que divide o átrio esquerdo;
Grupo 03: presença de apenas uma grande (larga) fenestração.
- Já o anel (membrana) supravalvar mitral, a inserção da membrana se dá inferiormente ao apêndice atrial esquerdo (AAE), ou seja, adjacente à valva mitral. Nesta situação, pode haver alteração da dinâmica valvar, sendo causa de estenose mitral.
- Uma outra estrutura que pode levar a confusão quanto ao diagnóstico destas duas condições é a Crista de Coumadin (ver post), que nada mais é que uma proeminência dada pelo ligamento de Marshall e que NÃO divide o átrio em duas câmaras.
Então, quando visualizarmos uma membrana transversal no átrio esquerdo, é de fundamental importância determinar a origem de inserção para que se possa fazer uma análise correta das diferentes possibilidades diagnósticas.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.