Nos textos anteriores sobre strain, conversamos sobre as principais definições teóricas do método, técnicas de obtenção das imagens e algumas aplicações práticas desta ferramenta. A partir de hoje, e nas semanas seguintes, iniciaremos uma sequência de postagens com casos clínicos reais, para que possamos sedimentar alguns dos principais conceitos apresentados previamente. Dando início à sequência, conversaremos um pouco sobre como podemos utilizar o Strain no auxílio ao Diagnóstico Diferencial das Hipertrofias Cardíacas.
Coração do Atleta
As adaptações miocárdicas observadas nos atletas variam amplamente, levando-se em consideração, principalmente, fatores como: tipo de esporte praticado (isotônico/ isométrico/ misto), etnia, gênero, idade, uso de drogas (como hormônios) e predisposição ou presença de cardiopatia prévia.
Na figura a seguir, vemos um esquema do mecanismo adaptativo que ocorre em cada tipo de esporte. Podemos observar que, em exercícios predominantemente aeróbicos, existe uma queda da resistência vascular periférica, aumento do retorno venoso e sobrecarga volumétrica do coração, levando a uma hipertrofia excêntrica.
Já nos exercícios de força, o que ocorre é um aumento da resistência vascular periférica, sem influência significativa no retorno venoso, conduzindo a uma sobrecarga pressórica do miocárdio e à hipertrofia concêntrica. Em esportes que envolvam os dois tipos de exercício, as adaptações podem variar, de acordo com a predominância de esforço.
Apesar da hipertrofia apresentada no exame ecocardiográfico bidimensional, o strain longitudinal global dos atletas, geralmente, é normal, mostrando que esta condição é apenas uma adaptação do organismo às condições crônicas de trabalho físico impostas, sem prejuízo para a função do cardiomiócito.
Devemos ficar atentos, no entanto, que os valores de strain longitudinal global (SLG) do atleta podem variar muito, provavelmente de acordo com diferentes graus de condicionamento, treinamento e condições clínicas e subclínicas de base.
O guideline europeu de 2017 estabeleceu que os valores normais para o Strain Longitudinal Global dos atletas variam entre 16 e 22%, com média de 20%. Valores abaixo de 16% podem configurar hipertrofias patológicas e, a recomendação, nestes casos, varia de descondicionamento físico temporário (em que normalmente se observa a regressão das alterações observadas no exame) ou até mesmo abandono da prática esportiva em questão, assim como investigação de cardiopatias subjacentes.
A seguir, na figura 2, vemos a comparação entre dois mapas polares, obtidos através do strain longitudinal global (SLG). O primeiro é de um indivíduo normal e o outro de um atleta com hipertrofia excêntrica. Na figura 3, temos o caso clínico de uma atleta maratonista, sexo feminino, 43 anos, com índice de massa de 112 g/m² e espessura relativa de 0,31. Notem que o valor global e o aspecto do mapa polar são semelhantes, demonstrando que as adaptações do atleta são fisiológicas, sem prejuízo para função cardíaca.
Mesmo que o strain esteja globalmente reduzido, o acometimento muscular é homogêneo, diferente das cardiopatias a seguir.
Hipertensão com Hipertrofia / Remodelamento Concêntrico
A característica deste perfil é o acometimento irregular da deformação miocárdica, sendo o comprometimento dos segmentos basais a apresentação mais comum. Observar que, não necessariamente, o SLG está comprometido (o paciente pode ter um valor global normal, porém com redução da deformação em áreas específicas).
Cardiomiopatia Hipertrófica Genética e Hipertrofia Apical
Nestas cardiopatias, existe crescimento desordenado das miofibrilas, difusamente ou em regiões específicas do coração, com aumento da vasculatura correspondente, porém sem reserva de fluxo coronariano adequada, o que leva a um sofrimento crônico das regiões afetadas, com aumento da infiltração fibrosa extracelular e prejuízo da função contrátil. Vejamos alguns exemplos:
Por hoje é só, pessoal! Fiquem de olho nas próximas postagens sobre as aplicações práticas do strain do ventrículo esquerdo. Bons estudos!
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Graduada em medicina, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É pós-graduada em Cardiologia, pela Funcordis, e em Ecocardiografia, pela ECOPE. Possui título de Especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
[…] José Maria Del Castillo e o Dr. Carlos Eduardo Suaide, abordam o tema Strain Cardíaco.Numa pequena pesquisa feita por Dr° Castillo, ele encontrou os dados de que, aproximadamente, 28% […]