O método ecocardiográfico mais preciso e confiável para estimar de forma não invasiva (indireta) as pressões em artéria pulmonar baseia-se na medida da velocidade do fluxo regurgitante da valva tricúspide.
Esta velocidade reflete a diferença de pressão existente entre o ventrículo direito (VD) e o átrio direito (AD) e, pode ser calculada pela equação de Bernoulli:
No corte, 4 câmaras na janela apical alinhamos o cursor com o jato regurgitante.
Com o Doppler Contínuo:
Neste exemplo, o Gradiente Máximo VD-AD é de 25 mmHg.
Quando adicionamos a esse gradiente a estimativa da pressão em AD, obtemos a PSAP.
Na janela subcostal, avaliamos e medimos a Veia Cava Inferior:
Estimativa da pressão em átrio direito (PAD) a partir da avaliação da veia cava inferior
VCI | Diâmetro (CM) | Colabamento Inspiratório |
5 mmHg (normal) | < 2,1 | > 50% |
10 mmHg | > 2,1 | > 50% |
10 mmHg | < 2,1 | < 50% |
15 mmHg | > 2,1 | < 50% |
No exemplo acima, a VCI possui um colabamento inspiratório > 50% e mede < 2,1 cm. Logo, a PAD estimada é de 5 mmHg. Então:
PSAP = Gradiente VD-AD + PAD
PSAP = 25 + 5
PSAP = 30 mmHg
Este método simples e facilmente reprodutível tem mostrado boa correlação com as medidas invasivas obtidas em laboratórios de hemodinâmica.
CASO CLÍNICO
Mulher, 71 anos, cardiopatia reumática, portadora de prótese biológica em posição mitral há 6 anos. Ela queixa de dispneia aos mínimos esforços.
No caso acima, a análise do jato regurgitante com o Doppler Contínuo mostrou um gradiente VD-AD de apenas 17 mmHg.
Devido a uma falha de coaptação dos folhetos da valva tricúspide e a um déficit contrátil importante do ventrículo direito, o gradiente do refluxo tricúspide encontra-se subestimado. Logo, o cálculo da PSAP através deste método não é possível.
Em situações como esta, podemos calcular a PSAP a partir do Tempo de Aceleração (TAC) do fluxo pulmonar.
No corte paraesternal transversal, ao nível da valva aórtica, alinhamos o curso com o fluxo de via de saída do ventrículo direito e posicionamos o volume amostra acima dos folhetos da valva pulmonar e, com o Doppler Pulsátil, encontraremos a curva abaixo.
Note a presença de um entalhe no fluxo pulmonar durante a desaceleração. Tal alteração é sugestiva de hipertensão pulmonar. Encontramos então um TAC 60 ms.
Logo, a PSAP estimada de 80 mmHg.
O valor absoluto do TAC também é útil para inferir a presenção de Hipertensão Pulmonar. Um TAC < 80 é altamente sugestivo de Hipertensão Pulmonar.
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Atua como médica ecocardiografista, na ECOPE, A+ Diagnóstico e Icordis. É pós-graduada em Ecocardiografia, pela ECOPE/Universidade Católica de Pernambuco. Possui título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é graduada em medicina, pela Universidade de Pernambuco (UPE).
Os cursos da ECOPE são bons. Quero fazer pós-graduação em 2021.
Olá, segundo a diretriz de 2015 de avaliação das cavidades cardíacas, não seria mais adequado usar valores de 3mmHg para cava com diâmetro <2,1cm e colapso > 50%, 15mmHg para cavas > 2,1cm e colapso < 50% e nos demais casos 8mmHg?
Bom dia. Sim, seguimos a recomendação do guideline, que diz que:
Pressão de AD normal 0-5 mmHg (média 3 mm
Pressão de AD com leve aumento 5-10 mmHg (média 8 mmHg)
Pressão de AD aumentada 10-15+ mmHg (eles não colocam média, usam 15 mmHg).
Apenas não usamos a média, senão, no caso normal, o valor de 5 mmHg, ficando dentro da faixa recomendada.
Entretanto, no caso aqui apresentado essa regra não se aplica, pois o fluxo é desviado para a veia hemiázigos, normalmente de muito menor diâmetro que a VCI, que se dilata devido ao hiperfluxo, indo desembocar na veia inominada.
Excelente explicação…bem didática