Como vimos nos posts anteriores, o strain cardíaco nos ajuda a avaliar a função miocárdica nos 3 eixos cartesianos:
- Eixo y: longitudinal, que avalia o encurtamento da cavidade no seu eixo longo;
- Eixo z: circunferencial, que avalia a variação da circunferência da cavidade no ciclo cardíaco;
- Eixo x: radial, que avalia o espessamento das paredes na sístole.
Agora vamos abordar as principais aplicações práticas do strain, começando pelo strain longitudinal.
Em relação à fração de ejeção (FE) o strain longitudinal é mais sensível na detecção de alterações da função miocárdica (podendo nos mostrar alterações subclínicas e até nos ajudar a reclassificar a função sistólica do paciente [imagem a seguir]), é menos dependente do ângulo de insonação e é capaz de detectar alterações de contratilidade segmentar (ajudando na classificação prognóstica de arritmias e na estratificação do paciente com dor torácica, por exemplo), entre outras vantagens.
As aplicações mais comuns, portanto, envolvem as seguintes situações, principalmente em suas fases compensadas (quando não houve ainda alteração na fração de ejeção, mas já houve comprometimento subendocárdico):
- Cardiotoxicidade por quimio e radioterapia
- Doença arterial coronariana
- Valvopatias
- Miocardiopatias
E você sabia que vários trabalhos já foram publicados demonstrando a aplicabilidade do strain longitudinal global para avaliar? Temos exemplos como:
- Mortalidade no paciente com IC aguda
- Avaliação de todas as causas de mortalidade nos pacientes com doença renal crônica
- Estratificação de risco em pacientes com estenose aórtica com baixa FE e baixo gradiente
- Avaliação prognóstica da miocardiopatia periparto?
Um mundo de possibilidades, não é? Mas vamos falar só mais um pouquinho, sobre os strains circunferencial e radial…
O strain circunferencial é aquele que avalia a diminuição da cavidade na sístole e se altera nas patologias que envolvem as camadas médias e externas das paredes (transmurais), portanto, aquelas com maior tempo de evolução e/ou mais graves, como infartos transmurais e miocardiopatias e valvopatias descompensadas.
Por último, o strain radial avalia o espessamento das paredes na sístole. Através da comparação entre paredes opostas, podemos avaliar o grau de sincronismo cardíaco e obtermos as regiões com maior dificuldade na condução dos estímulos elétricos, sendo útil na escolha dos locais para implante de eletrodos de ressincronizadores, por exemplo.
Muito conhecimento teórico até aqui, não é? Prepare-se para os próximos posts. Vamos divulgar casos clínicos reais que vão te ajudar a sedimentar melhor todo o conteúdo. Até breve!
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Graduada em medicina, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É pós-graduada em Cardiologia, pela Funcordis, e em Ecocardiografia, pela ECOPE. Possui título de Especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.