Hot Septum Sign: já ouviu falar?

Em pacientes com pericardite constritiva, uma redução do strain longitudinal é caracteristicamente observada nas regiões da parede livre do ventrículo esquerdo (VE) poupando, de forma relativa, o strain na região septal. Essa alteração gera um padrão característico ao mapa polar (Bull´s eye) denominado “hot septum“.

Vamos exemplificar ????

J Am Coll Cardiol Case Rep 2020;2:186–90

Homem, 78 anos de idade, com história de dispneia progressiva iniciada há 02 semanas, além de diminuição do apetite, distensão abdominal e edema em membros inferiores.

Apresentava-se com pressão arterial de 135 x 80 mmHg, frequência cardíaca de 91 bpm e SpO2 de 96% em ar ambiente. Ao exame, turgência jugular patológica, ascite e edema periférico graduado em 4+.

04 semanas antes da admissão, o paciente havia sido hospitalizado por dispneia de início recente, sendo documentado um derrame pericárdico moderado a importante. Foi realizado, à ocasião, drenagem do derrame, com análise citoquímica mostrando padrão inflamatório, com diagnóstico presumido de pericardite idiopática. Naquele momento, recebeu alta em uso de AINEs e Colchina.

O paciente, agora, realizou novo ecocardiograma cujo resultado demonstrou espessamento pericárdico, com presença e ecos com densidade de tecido (soft echo) no espaço pericárdico, de forma mais proeminente na parede inferior do ventrículo direito (> 2 cm).

J Am Coll Cardiol Case Rep 2020;2:186–90
J Am Coll Cardiol Case Rep 2020;2:186–90

A veia cava inferior estava dilatada e sem variabilidade inspiratória, sugerindo aumento da pressão atrial direita.

J Am Coll Cardiol Case Rep 2020;2:186–90

A avaliação da mobilidade do septo interventricular mostrou movimento assincrônico (bounce) a cada ciclo.

J Am Coll Cardiol Case Rep 2020;2:186–90

A fração de ejeção do VE era de 59%, com a análise do Doppler demonstrando uma variação > 30% da velocidade do fluxo transmitral, além de onda e´ septal com velocidade preservada. Havia, ainda, fluxo reverso expiratório diastólico em veia hepática.

A- variação do fluxo transmitral, B – e´ septal preservada, C – fluxo reverso expiratório em veia hepática (J Am Coll Cardiol Case Rep 2020;2:186–90)

A análise do strain do VE mostrou preservação relativa do strain circunferencial (A) médio ventricular (23%) e strain global longitudinal (B) de 18.6%, porém com variação segmentar significativa.

J Am Coll Cardiol Case Rep 2020;2:186–90

O padrão de alteração segmentar observado foi compatível com uma preservação do strain na região septal (hot septum) e valores reduzidos nos segmentos anterolateral e inferolateral. O diagnóstico de uma fisiologia constritiva foi realizado com bases nos achados citados.

Foi iniciada, então, terapia com corticosteróides, com o paciente apresentando boa evolução clínica e completa reversão sintomática.

Uma avaliação posterior, realizada 03 meses depois, mostrou diminuição significativa do espessamento pericárdico e ausência de sinais de restrição, além de aumento do valor do strain global longitudinal para 21.3% com melhora da deformação nos segmentos inferolaterais (C).

Esse padrão de alteração regional já é amplamente descrito na literatura e pode ser explicado pela aderência da parede livre do VE ao pericárdio espessado, bem como pelo envolvimento do miocárdio adjacente por contiguidade.

5 1 voto
Avaliação do artigo
Se inscrever
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais votado
O mais novo Mais velho
Feedbacks inline
Ver todos os comentários
0
Adoraria lhe escutar, por favor, comente.x