Ventrículo esquerdo (VE) dupla câmara é uma expressão utilizada para referir-se a uma subdivisão desta cavidade por uma banda (feixe) muscular ou por um septo anômalo, podendo haver conexão entre a cavidade acessória com o VE. Condição rara (prevalência 0.04-0.042%) e de etiologia congênita, pode se apresentar de forma semelhante à de complicações secundárias à infarto agudo do miocárdio (aneurisma ou pseudoaneurisma), segundo alguns autores.
Diferenciar entre estas condições pode ser um verdadeiro desafio, contudo de extrema importância devido as implicações clínicas, sobretudo no manejo desses pacientes, bem como pelos riscos de complicações.
Existem poucos casos relatados na literatura, com descrições de apresentações variáveis, o que, com frequência, faz com que estes pacientes sejam submetidos a vários ecocardiogramas inconclusivos durante a fase adulta, já que esta é uma condição mais frequentemente diagnosticada na faixa etária pediátrica.
O ecocardiograma e a ressonância magnética são os exames mais utilizados para a detecção desta patologia e para a avaliação morfológica e funcional.
Embora as descrições na literatura apontam para uma evolução benigna assintomática e sem complicações na maioria dos casos de VE dupla câmara, pouco se sabe quanto à avaliação prognóstica destes pacientes, assim como os potenciais riscos e complicações, sendo talvez as capacidades trombogênica e arritmogênica da câmara acessória as principais preocupações nestes casos.
Acredita-se, contudo, que a evolução dos pacientes que apresentam ventrículo esquerdo dupla câmara seja, na maioria das vezes, benigna, considerando que as câmaras costumam estar separadas em paralelo, sem determinar gradientes pressóricos ou obstrução da via de saída do VE. Desta forma, o tratamento acaba sendo norteado pelo comprometimento funcional do paciente.
Dentre os diagnósticos diferenciais, os aneurismas do VE, caracterizados como estruturas que se projetam da cavidade ventricular a partir de um colo, devem sempre ser lembrados. Vale ressaltar que o aneurisma apresenta tendência à expansão (discinesia) e não contração durante a sístole ventricular, enquanto que na dupla câmara ventricular esquerda, a parede muscular apresenta contração e redução do volume simultaneamente à sístole (porém não na totalidade dos casos), havendo separação entre as cavidades por uma espécie de membrana ou feixe muscular acessório.
Outro diagnóstico diferencial é o divertículo ventricular esquerdo, apresentando um colo pequeno comunicando as duas cavidades.
A seguir, um caso gentilmente compartilhado em um dos nossos canais da escola ECOPE para discussão de casos e aprendizado em conjunto.
Diferentemente das imagens ilustradas até aqui, este caso não tem apresentação em paralelo, observa-se uma comunicação entre as câmaras e aparente não compactuação do endocárdio da câmara acessória, corroborando a variabilidade de apresentações desta condição.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.