Dando continuidade à revisão do artigo publicado na European Journal of Cardio-Thoracic Surgery sobre um consenso acerca da classificação da valva aórtica bicúspide (VAo bicúspide), vamos agora falar sobre os fenótipos de acometimento aórtico.
Antes, uma breve revisão sobre a anatomia do segmento próximal da aorta torácica (para maiores destalhes, acessar essa postagem aqui do blog).
A raiz da aorta é divida em três diferentes segmentos que compõem a parte mais proximal da aorta ascendente:

1- Ânulo aórtico (linha circular virtual ainda na via de saída do ventrículo esquerdo, no plano entre o nadir das cúspides da valva aórtica e a base destas, sendo considerada a junção ventrículo-aórtica);
2- Seio de Valsalva (formato em “coroa” e local onde as cúspides valvares se aderem à parede aórtica – seios aórticos);
3- Junção sinutubular.
Quanto ao consenso, há a sugestão de não utilizar o termo “aneurisma de aorta”, tendo em vista o impacto negativo que este termo pode gerar nos pacientes. O texto, contudo, não cita valores para graduar a dilatação da aorta, então deixarei aqui os valores utilizados como parâmetros na ECOPE:

Existem três diferentes fenótipos de acometimento aórtico associado à VAo bicúspide:

1- Ascending phenotype – dilatação preferencialmente localizada no segmento tubular proximal da aorta ascendente (70% dos casos). Mais comum entre pacientes de mais idade, sem preferência por gênero, e associado a esclerose/estenose valvar aórtica;
2- Root phenotype – dilatação preferencialmente localizada na raiz da aorta, no seio de valsalva (20%). Mais comum em pacientes jovens e do sexo masculino, associado a regurgitação valvar. Neste cenário, há maior incidência de dissecção aguda de aorta no seguimento pós troca valvar.
* em ambos os casos pode haver acometimento dos outros segmentos aórticos, contudo de forma menos significativas.
3- Extended phenotype – dilatação significativas tanto da raiz de aorta quanto da porção ascendente, sem que haja predminância de alguma região específica; ou dilatação significativa da aorta ascendente e do arco aórtico. O comprometimento do arco aórtico ocorre mais frequentemente na VAo bicúspide com fusão dos folhetos coronariano direito e não coronariano.
Lembrando que nos pacientes com VAo bicúspide é mandatório excluir a presença de coarctação de aorta, uma associação com frequência não desprezível.


Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.