Tromboembolismo Pulmonar e Ecocardiografia: atenção para a janela supraesternal !

A ecocardiografia é ferramenta muito utilizada em pacientes com suspeita de tromboembolismo pulmonar, sobretudo na vigência de instabilidade hemodinâmica, ao permitir a avaliação da função ventricular direita, tendo sua disfunção uma das possíveis complicações neste contexto clínico.

Em alguns casos, ainda, é possível detectar, através da análise do tronco da artéria pulmonar e seus dois principais ramos, a presença do trombo propriamente dito, auxiliando ainda mais no diagnóstico destes pacientes.

Esta avaliação pode ser feita a partir de diferentes janelas ecocardiográficas. Desta forma, além da avaliação rotineira na janela paraesternal eixo curto ao nível dos vasos da base, deve-se ter atenção também na janela supraesternal que, apesar de pouco frequente, pode permitir a visualização de trombos. Trago aqui dois exemplos, retirados do periódico CASE (clique aqui), de como esta apresentação incomum pode se caracterizar:

Caso 01:

Mulher, 59 anos, hipertensa, diabética, dislipidêmica e portadora de hipotireoidismo, deu entrada no pronto socorro com queixa de dispneia e tosse não produtiva. Informa que quadro havia iniciado 4 dias antes, contudo apresentou piora da falta de ar nas últimas horas antes da admissão. Tinha tido quadro prévio de COVID 19 há 2 semanas, porém apenas com sintomas leves. Apresentava-se com pressão arterial de 111×84 mmHg, FC 110 bpm e SpO2 95% em ar ambiente, sem alterações ao exame físico. Laboratorialmente, chamava atenção aumento do D-dímero e eletrocardiograma com taquicardia sinusal.

Realizada TC de tórax com contraste, sendo observado trombo na bifurcação do tronco da artéria pulmonar, além de opacidades em vidro fosco bilateralmente no parênquima pulmonar, podendo estar relacionada ao quadro prévio de COVID 19 ou por infartos pulmonares.

Trombo “a cavaleiro” (bifurcação do tronco da artéria pulmonar)

Em seguida, realizado ecocardiograma transtorácico, sendo observado, na janela paraesternal longitudinal eixo curto, uma massa móvel, medindo 23×9 mm, localizada na bifurcação do tronco da artéria pulmonar, consistente com trombo “a cavaleiro”.

O que chamava atenção era a presença de imagem sugestiva de trombo na artéria pulmonar direita, visualizada na janela supraesternal, medindo 14×8 mm de diâmetro.

A PSAP foi estimada em 46 mmHg e havia retificação do septo interventricular em direção às câmaras esquerdas resultante da sobrecarga pressórica e volumétrica nas câmaras direitas, com sinais de disfunção ventricular direita (TAPSE 12 mm).

Caso 02:

Homem, 24 anos, admitido no pronto socorro após episódio de síncope associada a dispneia e fadiga. Apresentava-se com PA 92×59 mmHg, FC 108 bpm, SpO2 95% em ar ambiente. Com antecedente patológico de meduloblastoma, o paciente havia sido submetido, há 30 dias, a biópsia de uma lesão cística hepática com necessidade de embolização transcateter da artéria hepática direita em decorrência de sangramento ativo pós procedimento.

Nesse contexto oncológico, além de compressão extrínseca da lesão cística hepática na veia cava inferior (favorecendo estase venosa), o paciente enquadrava-se em alta probabilidade para tromboembolismo pulmonar.

O ecocardiograma demonstrou dilatação do ventrículo direito (VD), com retificação do septo interventricular, além de função sistólica do VD reduzida (TAPSE 13 mm).

Na janela supraesternal foi observado uma massa móvel na artéria pulmonar direita, medindo 15×11 mm de diâmetro, achado este também visualizado na TC de tórax.

A TC de tórax demonstrou trombo “a cavaleiro” na bifurcação da artéria pulmonar.

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Eliezer

Excelente!

Daniella Rocha de Sousa

Excelente artigo! Obrigada!!!

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