O tamponamento cardíaco é um diagnóstico clínico, mas a avaliação ecocardiográfica da repercussão hemodinâmica do derrame pericárdico é indispensável na maior parte dos casos.
A presença de colapso do ventrículo direito (VD), variabilidade respiratória dos fluxos mitral (>30%) e tricúspide (>60%) e veia cava inferior dilatada associada a ausência de variação inspiratória indicam, ao ecocardiograma, a presença de tamponamento cardíaco.
Contudo, um sinal fácil de ser visualizado, que tem especificidade de 100% e sensibilidade de 89%, muitas vezes não é lembrado: colapso diastólico do VD demonstrado através do modo M.
Consiste em um movimento de inversão da parede livre durante a diástole, quando a pressão intrapericárdica supera a pressão no VD na diástole ventricular.
Inicialmente é observado durante a expiração, ocorre na diástole e quanto maior a duração durante essa fase do clico cardíaco, maior é a repercussão hemodinâmica.
Vamos mostrar um exemplo prático?
Homem, 67 anos, admitido na emergência com dor severa em coluna dorsal associado a dispneia progressiva há 02 semanas, atualmente descrita em repouso e com ortopneia. Relatava, ainda, perda de peso não intencional e hiporexia.
Portador de hipertensão arterial sistêmica (HAS), dislipidemia, doença arterial coronariana estável, fibrilação atrial (em uso de apixabana), episódio prévio de acidente vascular encefálico e passado de neoplasia renal (nefrectomia à direita há 01 ano). Além disso, ex-tabagista, tendo fumado um maço/dia durante 40 anos.
À admissão, pressão arterial de 117×64 mmHg, frequência cardíaca de 64 bpm, frequência respiratória de 16 irpm, SpO2 99% em ar ambiente. Observado turgência jugular patológica, ausência de sopros cardíacos. Radiografia de tórax com área cardíaca aumentada e em formato de “bota”.
Eletrocardiograma demonstrou ritmo sinusal, com FC 61 bpm, sem alterações. Realizado, então, ecocardiograma à beira do leito que demonstrou derrame pleural importante.
Ao modo M, observado colapso do átrio direito (> 30%) e colapso diastólico do VD (seta vermelha).
Ao Doppler, variação > 40% do fluxo transvalvar tricúspide, com PSAP estimada em 44 mmHg. Veia cava inferior com tamanho normal, porém com variabilidade inspiratória < 50%.
O paciente foi submetido à pericardiocentese de emergência com drenagem de 800 cm³ de fluido amarelo citrino. A análise citológica não mostrou células malignas.
Exames de controle durante a internação não mostraram novo derrame pericárdico.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.