Sarcoidose Cardíaca: o strain pode ajudar ?

A gente viu, na postagem anterior, que o ecocardiograma tem sensibilidade limitada para o diagnóstico do acometimento cardíaco em pacientes com sarcoidose. A ressonância magnética (RM), por sua vez, é uma técnica superior, mas esbarra nos quesitos disponibilidade e custo.

Seria, então, o strain global longitudinal uma ferramenta útil para identificar pacientes com sarcoidose cardíaca no contexto de fração de ejeção preservada ?

Murtagh et al, Echocardiography 2016; 33: 1344–1352

O estudo avaliou 31 pacientes com sarcoidose extra cardíaca, histologicamente comprovada, e com fração de ejeção do VE (FEVE) > 50% associado a presença de realce tardio na RM cardíaca, comparando com outros 31 pacientes também com diagnóstico definido, contudo sem presença de realce tardio.

Os grupos foram pareados pela idade, sexo e padrão de acometimento pulmonar pela doença.

O objetivo do estudo foi determinar se (1) o strain global longitudinal (SGL) é capaz de detectar pacientes de maior risco para o acometimento cardíaco da sarcoidose (que tem, atualmente, como marcador de risco a presença de realce tardio à RM); (2) qual seria o ponto de corte do strain global longitudinal do VE para esses pacientes; e (3) se a presença de strain alterado se associa com maior risco de morte ou arritmia ventricular maligna.

Murtagh et al, Echocardiography 2016; 33: 1344–1352

Os pacientes do estudo apresentavam idade média de 57 anos, eram predominantemente do sexo feminino (69%) e afro-americanas (58%). Em média, o diagnóstico de sarcoidose foi realizado 15 anos antes do estudo. Quase todos os pacientes (90%) tinham acometimento pulmonar ou torácico e apenas 2 pacientes apresentavam 3 ou mais fatores de risco cardiovascular.

Murtagh et al, Echocardiography 2016; 33: 1344–1352

Não houve diferença estatisticamente significativa da FEVE entre os dois grupos e nenhum paciente avaliado tinha alteração da contratilidade segmentar.

Houve diferença significativa na relação E/A, porém não em relação aos outros parâmetros de avaliação da função diastólica.

Em relação a função ventricular direita, o grupo com acometimento cardíaco (realce tardio) apresentou maiores índices de disfunção (25.8% x 9.7%, P = 0.005).

Murtagh et al, Echocardiography 2016; 33: 1344–1352

Não houve diferença, entre os demais parâmetros de função e diâmetros avaliados pela RM.

O strain global longitudinal (SGL) do VE, por sua vez, foi significativamente menor no grupo dos pacientes com realce tardio (−14.7±2.4% x −19.6±1.9%).

SGL reduzido se associou com a presença de qualquer grau de realce tardio, com correlação moderada (r = 0.59) após análise por regressão linear, com AUC = 0.94 pela análise ROC.

O ponto de corte para separar os dois grupos e, portanto, se correlacionar com a presença de realce tardio foi de ≥−17%, resultando em sensibilidade, especificidade, valor preditivo negativo e valor preditivo positivo de 94% para a detecção de qualquer grau de realce tardio.

Murtagh et al, Echocardiography 2016; 33: 1344–1352

Os pacientes que evoluíram com desfecho (5 mortes, 3 casos de taquicardia ventricular) durante o seguimento tiveram piores SGL (−13.4±2.5%) quando comparados com os outros 54 pacientes com não apresentaram nenhum evento (−17.7±3.0%).

Houve diferença significativa ( P < 0.008) na sobrevida entre os dois grupos quando utilizado o valor de corte de ≥ −17% do SGL. Dos pacientes com SGL ≥ 17%, nenhum apresentou MACE (CI 0.635–0.996, P=.046).

Murtagh et al, Echocardiography 2016; 33: 1344–1352

O estudo conclui, portanto, que pacientes com sarcoidose e SGL < 17% estão sob maior risco de morte e/ou arritmias ventriculares malignas.

Esse resultado é condizente com os achados demonstrados por Joyce et al. em que pacientes com SGL reduzido apresentaram maiores taxas de desfecho composto (morte por todas as causas, hospitalização por insuficiência cardíaca, necessidade de dispositivos cardíacos implantáveis, arritmias novas ou desenvolvimento futuro de sarcoidose cardíaca).

Um dado que corrobora a importância de se avaliar o impacto do SGL nos pacientes com sarcoidose é que o tratamento com corticosteróides é mais efetivo em pacientes com FEVE preservada (em tese, numa fase mais precoce do acometimento cardíaco pela doença).

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