Não é incomum recebermos pacientes com diagnóstico prévio de prolapso da valva mitral e, quando realizamos o exame, percebemos que isto não é verdade (acredito que seja uma realidade quase que diária!).
Muitas vezes o prolapso da valva mitral é confundido com outra alteração conhecida como billowing – que nada mais é do que a protusão/movimento sistólico posterior de algum segmento do folheto valvar. Para conseguir diferenciar estas duas situações é importante observar, de forma cuidadosa, o plano de coaptação (figura) da valva mitral na janela paraesternal longitudinal.
No prolapso, a coaptação ocorre acima do plano do anel valvar, ou seja, no interior do átrio esquerdo, em pelo menos 2 mm.
Já no billowing, há um deslocamento de algum segmento (scallop) do folheto anterior ou posterior da valva mitral, porém o plano de coaptção ocorre além ou no mesmo plano do anel valvar. Portanto, todo prolapso tem billowing, contudo nem todo billowing é prolapso!
Uma forma que ajuda a fazer esta avaliação é simplesmente observar se o ponto de coaptação se desloca anteriormente (em direção apical) da mesma forma que o anel da valva mitral o faz.
Aqui temos um exemplo de billowing sem prolapso.
Já neste exemplo temos prolapso propriamente dito:
Uma comparação entre as duas situações:
E quando estamos diante de um paciente com prolapso da valva mitral, ou até mesmo billowing mitral, precisamos fazer uma avaliação cuidadosa pensando em duas situações: os red flags que se associam à síndrome arrítmica do prolapso da valva mitral e características que possam nos levar a pensar em etiologia degenerativa da valva mitral.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.