Insuficiência Tricúspide Induzida por Dispositivos Eletrônico Cardíaco Implantável: uma nova classificação?

Quando falamos em regurgitações valvares, normalmente as classificamos em dois grupos distintos (primária alterações próprias dos folhetos valvares; secundária ou funcional).  

No caso das alterações da valva tricúspide isso também é verdade, com grande ênfase no grupo das alterações funcionais (secundárias), sejam elas por alterações morfológicas e/ou funcionais do ventrículo direito (VD) ou do átrio direito (AD), mantendo a integridade estrutural dos folhetos valvares.

Além disso, baseado no mecanismo fisiopatológico, a insuficiência tricúspide (IT) pode ser descrita, em termos práticos, utilizando a Classificação Funcional de Carpentier com base na mobilidade dos folhetos (embora esta classificação seja pouco utilizada, uma vez que ela foi inicialmente criada para auxiliar no planejamento cirúrgico das valvopatias mitrais):

  • Carpentier tipo I: folhetos com mobilidade preservada e predomínio do aumento do átrio direito (“refluxo tricúspide funcional atrial“).
  • Carpentier tipo IIIb: tethering dos folhetos com restrição de mobilidade durante a sístole por alteração da geometria do ventrículo direito (“refluxo tricúspide funcional ventricular“)

Uma nova classificação, contudo, tem sido proposta por Hahn, Rebecca T et. al, em recente publicação no European Heart Journal – Cardiovascular Imaging, em que um novo grupo de insuficiência tricúspide foi intitulado de insuficiência tricúspide induzida por dispositivo eletrônico cardíaco implantável (cardiac implantable electronic device – CIED induced tricuspid regurgitation).

Dada a sua fisiopatologia multivariada, compartilhando características da insuficiência tricúspide primária e secundária, essa nova classificação foi proposta em razão do número crescente de pacientes com dispositivos intracardíacos implantáveis e com a perspectiva de aumento da sobrevida desta população.

Aproximadamente 25-29% dos pacientes com marcapasso definitivo, por exemplo, tem refluxo valvar tricúspide, uma prevalência próxima do dobro quando comparado com outros grupos de pacientes. Contudo, o simples fato da presença de um eletrodo de marcapasso em câmaras direitas parece não ser o suficiente para explicar o mecanismo do refluxo tricúspide nestes pacientes, sendo esta avaliação bastante desafiadora.

A interferência direta do eletrodo transtricuspídeo de marcapasso com os componentes do aparelho subvalvar pode contribuir para o surgimento de regurgitação valvar em aproximadamente 7-45% dos pacientes que são submetidos a implante de dispositivo intracardíaco.

Ainda, dentro desta nova categorização de regurgitação tricúspide, é possível realizar uma subdivisão em doença primária ou secundária. 

Apesar desta classificação, a IT induzida por dispositivo cardíaco implantável de causa primária pode, com o passar dos anos, induzir alterações geométricas e/ou funcionais no VD, levando a um mecanismo secundário associado na fisiopatologia do refluxo valvar. 

O ecocardiograma 3D se mostra mais adequado para avaliar este tipo de regurgitação valvar, uma vez que consegue, de forma mais detalhada, avaliar com mais precisão a interação do dispositivo com todo o aparato valvar.

E aí, já tinha ouvido falar sobre essa nova proposta de classificação? Me conta o que achou…

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Sergio Guedes

Como sempre Caio, suas postagens são muito úteis, pela objetividade e informação atualizada e de qualidade. Parabéns.

violetabg19@gmail.com

Muito interessante, sempre acompanho suas postagens.

Milton

Muito boa postagem, de um assunto pouco estudado e comentado. Excelente como sempre.

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