Dando continuidade ao post anterior, vamos falar de outras complicações mecânicas do IAM.
Tópicos
# INSUFICIÊNCIA MITRAL ISQUÊMICA:
A insuficiência mitral (IMi) pode ocorrer em até 50% dos pacientes após o IAM com a valva estruturalmente normal e mesmo a IMi de grau leve tem impacto prognóstico.
Diferentemente da IMi da doença arterial coronária crônica, a IMi no contexto agudo não é associada à redução da dinâmica do anel mitral, nem pelo seu alargamento ou pela redução do seu aspecto em sela. Ocorre, no entanto, uma separação dos músculos papilares e excesso de rotação, resultando em excesso de tensão dos folhetos, alterando a estrutura da valva mitral e causando IMi.
Outros mecanismos causadores de IMi no contexto de IAM podem estar relacionados com ruptura de músculo papilar, parcial ou total, e por sua disfunção.
A ruptura de músculo papilar é uma complicação mecânica rara, porém com mortalidade de 80% quando tratada somente com terapia clínica. A apresentação clássica é de edema agudo pulmonar e choque cardiogênico.
Ao ecocardiograma, observa-se uma estrutura ecogênica com movimentação livre durante todo o ciclo cardíaco, projetando-se para o interior do AE na sístole e em direção ao VE na diástole, associada a IMi grave com jato excêntrico e com efeito Coanda.
Vale lembrar que o músculo papilar anterolateral é suprido por dois vasos (artéria circunflexa e artéria descendente anterior), diferentemente do músculo papilar posteromedial, suprido unicamente pela artéria coronária direita. Por esta razão, a ruptura ocorre mais comumente nos infartos de parede inferior.
Alguns artigos descrevem a disfunção do músculo papilar como cauda de IMi no IAM. O ecocardiograma evidencia um ou ambos os folhetos com o ponto de coaptação deslocado em direção ao ápice, acima do plano do anel valvar mitral, com jato central ou excêntrico (a depender se um ou ambos os folhetos foram acometidos).
# ANEURISMA VERDADEIRO:
O aneurisma do VE é uma complicação relacionada com a expansão do infarto, ocorrendo mais frequentemente em infartos de parede anterior e lateral, próximo à região apical. Pode também acometer a parede inferior.
Caracteriza-se por afinamento gradual da parede do VE com preservação das três camadas (endocárdio, miocárdio e epicárdio), sem ruptura de tecido, com transição gradual da parede normal até a região do aneurisma.
Existem dois tipos de aneurisma: o aneurisma tradicional, mais comumente conhecido, com abaulamento diastólico da região, acompanhado de discinesia; e o aneurisma funcional, sem abaulamento, com presença de grande área acinética de funcionalmente anormal (decorre do remodelamento tardio do VE).
# RUPTURA DE PAREDE LIVRE:
É a segunda causa de morte após o choque cardiogênico em pacientes com IAM. Embora não muito comum, ocorre 10x mais que a ruptura do septo interventricular e a ruptura do músculo papilar, com incidência estimada em 2-4% nos pacientes pós-IAM. Cerca de 1/4 dos casos ocorre nas primeiras 24h.
Acomete o segmento inferolateral em 43% dos casos, a parede lateral em 28% e a parede apical em 24%. Nos demais segmentos, a frequência é semelhante.
O ecocardiograma é o exame de escolha com sensibilidade de 100% e especificidade de 93%. Deve-se suspeitar sempre na presença de hipotensão e derrame pericárdico.
# PSEUDOANEURIMA:
É outra rara complicação que ocorre por adesão da ruptura da parede livre ao pericárdio ou por formação de trombo. O IAM é a causa mais comum e pode ocorrer em até 4% dos pacientes, sendo responsável por 23% das mortes por IAM.
Caracteriza-se como agudo quando ocorre dentro de 2 semanas após o infarto e crônico, quando após este período. Diferentemente do aneurisma verdadeiro, o pseudoaneurisma se comunica com a cavidade ventricular por um colo estreito, resultante da ruptura, cujo diâmetro em geral é metade do pseudoaneurisma. Nesse local, e em todo o “saco aneurismático”, observa-se a ausência das camadas que compõem a parede do VE.
Além disso, o ecocardiograma permite a visualização da comunicação com a cavidade e a presença de fluxo bidirecional visualizado ao Doppler colorido.
Ufa!!! Finalmente acabamos … Espero que tenham gostado e até o próximo post.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
Parabéns colega, propagando informações de relevância e qualidade. Com facilidade de acesso e sem custo.