IDENTIFICAÇÃO ECOCARDIOGRÁFICA DA HIPERTENSÃO PULMONAR

Introdução

A hipertensão pulmonar (HP) é uma síndrome clínica com importante repercussão, causada por diversas patologias. Quando não tratada apresenta elevada morbimortalidade e grande deterioração da qualidade de vida dos pacientes, pelo que seu diagnóstico apropriado e precoce é crucial.

A ecocardiografia cumpre papel fundamental na triagem de pacientes com suspeita de HP ou HP conhecida, mas às vezes, a determinação dos níveis pressóricos e da repercussão sobre as cavidades cardíacas não é totalmente esclarecido pelo método.

Definição de HP:

  • Aumento da pressão média da artéria pulmonar ≥25 mmHg em repouso, aferida pelo cateterismo cardíaco direito.
  • Valor normal da pressão pulmonar média: 14±3 mmHg.
  • Valor máximo normal: 20 mmHg.
  • O significado clínico de valores entre 21 e 24 mmHg não esclarecido.

HP pré-capilar: Pressão capilar pulmonar média (PCP) ≤15 mmHg).

HP pós-capilar: PCP >15 mmHg.

Na HP pós-capilar é necessário determinar o gradiente pressórico transpulmonar (GPT), que pode ser estimado pela fórmula:

GPT = PMAP – PCP média

Onde GPT: gradiente pressórico transpulmonar; PMAP: pressão média da artéria pulmonar; PCP média: pressão capilar pulmonar média.

  • Quando o GPT é ≤12 mmHg o aumento da pressão arterial pulmonar é considerado passivo, causado exclusivamente pelo acometimento cardíaco.
  • Quando o GPT é >12 mmHg, o aumento da pressão arterial pulmonar é desproporcional ao aumento da pressão diastólica do VE, indicando remodelamento da vasculatura pulmonar ou a existência de outra causa associada contribuindo para o aumento pressórico.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica a HP em 5 grupos:

Como determinar a HP:

Avaliação do gradiente de refluxo tricúspide pelo Doppler, mais o valor da pressão média atrial direita, pela análise do tamanho e variação respiratória da veia cava inferior.

Cálculo da pressão sistólica do VD pela estimativa do gradiente máximo de refluxo tricúspide (Vmax). A pressão sistólica pulmonar (PSAP) é calculada acrescentando a pressão média do átrio direito (PAD).

Estudos recentes demonstram moderada correlação com a hemodinâmica na estimativa da pressão sistólica do VD pela medição do refluxo tricúspide, podendo induzir a superestimação ou subestimação do cálculo da pressão pulmonar.

As causas que contribuem para diminuir a correlação com os dados da hemodinâmica são: medição incorreta da velocidade Doppler do refluxo tricúspide devido à qualidade do sinal e alinhamento com o jato de refluxo. A equação de Bernoulli estimada pelo quadrado da velocidade multiplicada por 4 magnifica pequenas variações da medição. A medida da pressão do AD pela avaliação do diâmetro e variação respiratória da VCI pode ser imprecisa. Grandes refluxos tricúspides (refluxos torrenciais) não se correlacionam com a pressão do VD, não devendo ser estimados. Ainda, a ausência de refluxo tricúspide é insuficiente para excluir HP.

IMPORTANTE: Segundo o guideline da Sociedade Britânica de Ecocardiografia, ao se avaliar pacientes com suspeita de HP, a informação obtida pela ecocardiografia permite apenas estimar a possibilidade de haver HP, ao invés de estabelecer um diagnóstico definitivo.

Para diagnóstico de HP pela ecocardiografia devem se analisar vários parâmetros:

  • Para a estimativa de haver HP pela velocidade de refluxo tricúspide pode ser usado o algoritmo mostrado abaixo.
Algoritmo para determinar a probabilidade de detecção de HP pela velocidade de refluxo tricúspide (Guideline ESC/ERS para diagnóstico da HP).

O primeiro passo consiste em avaliar a velocidade de refluxo tricúspide, que deve ser complementada com os seguintes parâmetros complementares. Esta avaliação deve ser realizada em todas as formas clínicas de HP:

Corte apical de 4 câmaras em paciente com dilatação do VD, observando-se o aumento do diâmetro basal diastólico do VD.
Corte paraesternal transversal ao nível dos músculos papilares em pacientes com HP importante, observando-se o achatamento do septo interventricular com perda da esfericidade do VE.

Tempo de aceleração pulmonar, obtido com Doppler pulsátil na via de saída do VE, velocidade do refluxo pulmonar e diâmetro da artéria pulmonar.

Velocidade inicial do refluxo pulmonar (esquerda) em paciente com hipertensão pulmonar com velocidade >2,2 m/s. À direita, diâmetro da artéria pulmonar obtida pelo corte paraesternal transversal.
Veia cava inferior, observando-se a variação respiratória dos diâmetros e a medição dos diâmetros máximo (expiratório) e mínimo (inspiratório com “sniff”).
Corte apical do VD para determinação das dimensões da cavidade e a área e volume do átrio direito.

Referências.

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  2. Naeije R, Vachiery JL, Yerly P, Vanderpool R. The transpulmonary pressure gradient for the diagnosis of pulmonary vascular disease. Eur Respir J 2013; 41(1):217-223.
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  8. Augustine DX, Coates-Bradshaw LD, Willis J, et al. Echocardiographic assessment of pulmonary hypertension: a guideline protocol from the British Society of Echocardiography. Echo Res Pract 2018; 5(3):G11-G24.
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cristina marcolan

excelente. Muito útil.

Violeta.

Artigo didático com imagens lindas como sempre.

Roberto

Não diz como calcular a pressão capilar média pelo ecocardiograma.

Antonio Luiz Junior

Excelente , muito assertivo .

Marco Aguiar

excelente

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