A biópsia endocárdica, embora não tão utilizada na prática, é considerada um procedimento seguro. Contudo, mesmo sendo um procedimento seguro, todo e qualquer risco envolvendo uma intervenção cardíaca não deve ser minimizado, tendo em vista o alto potencial de gravidade em qualquer tipo de intercorrência.
No caso específico da biópsia endocárdica, a retirada de fragmento da parede livre do ventrículo direito (VD) é, de longe, o fator mais relacionado à complicações, como por exemplo perfuração miocárdica e tamponamento cardíaco.
Para minimizar esse risco, o recomendado é retirar fragmentos do septo interventricular (face ventricular direita). Para tal a fluoroscopia é a maneira utilizada para guiar o procedimento, com boa taxa de sucesso e alta margem de segurança.
Todavia (lembram que eu falei que todo e qualquer risco não deve ser minimizado?), a ecocardiografia transtorácica tridimensional em tempo real (real time 3D echocardiography – RT3DE) pode oferecer uma margem de segurança adicional, com o ganho, através da qualidade da imagem, em determinar com maior precisão a real localização do biótomo.
Essa preocupação se dá em razão de que algumas séries prévias demonstraram que, em alguns casos, o biótomo, apesar de aparentemente estar na região do septo interventricular pela fluoroscopia, na verdade estavam posicionados na parede livre do VD (já que a fluoroscopia não consegue demonstrar de forma direta a localização anatômica exata do biótomo).
Com o auxílio do RT3DE é possível visualizar, de forma adequada, as estruturas das câmaras cardíacas direitas e ter, com precisão, noção da localização da ponta (extremidade distal) da bainha do biótomo, bem como sua orientação em relação as estruturas adjacentes do VD. Então, durante o procedimento de biópsia endocárdica, após o posicionamento da bainha do biótomo no VD através da fluoroscopia, a ecocardiografia pode ser utilizada para refinar a visualização e certificar que a ponta da bainha está posicionada de forma correta.
A visualização no plano-C (eixo curto) é utilizada para visualizar o VD. Essa janela é mais indicada, quando comparada com a janela apical 4C, pela melhor caracterização do plano ventricular (basal –> apical) a partir do septo interventricular.
Outro ponto a se destacar é que, aumentando a precisão, é possível diminuir o número de amostras necessárias para uma coleta satisfatória (diminuindo o risco de iatrogenia).
Como seria o passo a passo para o ecocardiografista auxiliar este procedimento:
1- RT3DE janela apical 4C, com técnica de renderização de volume, quando o biótomo estiver no VD; 2- Utilizar a técnica 2D de slicing tomográfico para visualizar a ponta do biótomo, com ajuste da espessura do slice para um corte do VD focado na ponta do biótomo; 3- Confirmar o posicionamento do biótomo na parede do septo interventricular e realizar a biópsia. |
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.