O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune, favorecendo assim a um estado proinflamatório que pode levar à disfunção de vários órgãos e sistemas.
O acometimento cardíaco nesses pacientes é comum, sendo reportado em até 50% dos pacientes com LES, sendo, portanto, uma das principais causas de morbimortalidade nestes pacientes.
A disfunção endotelial, sem dúvida, é um dos grandes responsáveis por este cenário, levando a progressão aterosclerótica, motivo pelo qual a doença arterial coronária figura entre as principais complicações do LES. Outras formas possíveis de acometimento cardíaco são a miocardite/pericardite, contudo vale destacar aqui a endocardite de Libman-Sacks / endocardite trombótica não bacteriana.
ACOMETIMENTO VALVAR
A prevalência de doença valvar no LES pode chegar até 31%, inclusive entre aqueles pacientes com anticorpo antinuclear (FAN) negativo. A maioria das lesões valvares são leve e sem repercussão hemodinâmica, sendo sintomáticas em apenas 5% dos casos.
A lesão se dá por uma valvulite seguida de fibrose cicatricial. Pode ser definida, entre aqueles com anticorpos antifosfolípides, por espessamento valvular maior que 3 mm, com acometimento preferencial do segmento proximal ou médio do folheto valvar, ou por nodulações/vegetações irregulares nas bordas de coaptação (endocardite de Libman-Sacks). Nestes casos, pode haver disfunção valvar significativa.
O depósito de anticorpos antifosfolípide e componentes do complemento já foi amplamente descrito em pacientes com alterações valvares e portadores de LES + Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAAF). Estes anticorpos favorecem a formação de trombos nas valvas, que já estão comprometidas pela deposição de imunocomplexos. Não à toa, pacientes com SAAF, sem doença valvar prévia, tem maior probabilidade (8% likeihood ratio) de evoluir com acometimento valvar.
A lesão valvar mais comumente encontrada nos pacientes com LES é a regurgitação mitral, seguida do refluxo tricúspide, tendo relação direta com presença de anticorpos Anti-DNAse. As lesões aórticas, seja insuficiência ou estenose, são encontradas menos frequentemente. Há, contudo, uma maior incidência de calcificação da valva aórtica e da valva mitral quando comparados com a população geral.
PERICARDITE
Aproximadamente 16% dos pacientes com LES têm serosite e, destes, 25% desenvolve pericardite sintomática. Na maioria dos casos é acompanhada de derrame pericárdico leve e em apenas 8.6% há evolução com repercussão hemodinâmica, com necessidade de pericardiocentese. O tamponamento cardíaco ocorre em cerca de 3.2% dos pacientes.
MIOCARDITE E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
A apresentação clínica com miocardite é rara no LES (3-15%), contudo miocardite subclínica diagnosticada por biópsia tem maior prevalência. Miocardite aguda complicada com choque cardiogênico já foi reportada, contudo é considerada incomum. A lesão primária se dá por inflamação perivascular e infiltrado mononuclear, além de arteriopatia com necrose de cardiomiócitos.
A deposição de imunocomplexos também pode levar a miocardite. Neste caso, induzida por trombose de microcirculação. É importante ressaltar, contudo, que a hipertensão arterial e a doença arterial coronária são as principais causas de acometimento miocárdico nestes pacientes.
Deng et al. Avaliou 41 pacientes com LES e insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFep) sem fatores de risco cardiovascular. O estudo concluiu com os pacientes com LES têm maior hipertrofia do septo interventricular e de parede posterior comparado com pacientes sem LES. A avaliação por speckle tracking mostrou redução do strain global longitudinal (SGL) e strain global circunferencial. Esta redução se mostrou de forma mais significativa em pacientes com LES severo quando comparados com a forma leve da doença. A análise do SGL mostrou-se sensível como marcador de atividade de doença.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
Excelente atualização! Parabéns!