A contração pós-sistólica é um fenômeno conhecido e motivo de muitos estudos na literatura. Por ter uma associação à isquemia miocárdica, vem tendo destaque como um marcador precoce em pacientes com coronariopatia.
Por outro lado, também existe o alongamento sistólico que, à primeira vista, pode levar à confusão diagnóstica caso não seja amplamente conhecido.
Ambos representam uma deformação paradoxal de segmentos miocárdicos e são facilmente documentados através da análise do strain cardíaco.
Acontece que a contração pós-sistólica não necessariamente representa um fenótipo patológico. Pelo contrário, acredita-se que durante a fase de ejeção, aproximadamente 1/3 dos segmentos de uma determinada parede miocárdica de indivíduos saudáveis pode apresentar contração pós-sistólica (em geral, de menor magnitude e de curta duração). Fatores como idade, sexo e condições hemodinâmicas podem interferir nesse processo (maior com o aumento da pós-carga e reduzido com maior pré-carga).
Já o alongamento, como o próprio nome diz, é caracterizado por um estiramento durante a sístole precoce.
Em condições patológicas, a presença de contração pós-sistólica pode ser um marcador precoce de doença.
Durante um evento isquêmico agudo, por exemplo, os segmentos miocárdicos acometidos apresentam um alongamento durante a fase inicial da sístole, enquanto que os segmentos não afetados continuam a contrair-se. Isso, de forma geral, causa uma redução do valor do strain sistólico e um aumento concomitante da contração pós-sistólica.
Dessa forma, a presença de contração pós-sistólica pode ser considerada um marcador para suspeita de isquemia miocárdica e, acredita-se, que até 80% dos pacientes com doença arterial coronária apresentem contração pós-sistólica.
Inclusive, alguns estudos relacionam a contração pós-sistólica com o escore de cálcio coronariano, sendo este achado um possível indicador daqueles pacientes que podem se beneficiar da realização da angiotomografia de artérias coronárias para estratificação cardiovascular.
Dado o número abundante de estudos sobre isquemia e contração pós-sistólica, alguns autores advogam que a presença deste achado possivelmente seja superior aos parâmetros convencionais ecocardiográficos e, inclusive, do strain sistólico para identificar segmentos isquêmicos de não isquêmicos.
Por sua vez, pouco se sabe sobre a relação de alongamento sistólico e isquemia miocárdica.
É interessante citar também que a presença de níveis elevados de contração pós-sistólica se associe a uma recuperação à longo prazo dos segmentos acometidos após terapia adequada, além de melhora da função sistólica e maiores taxas de remodelamento reverso. Ou seja, segmentos que apresentam contração pós-sistólico em algum teste provocativo (ecocardiograma com estresse físico, por exemplo), tem um maior potencial de benefício com a revascularização miocárdica.
Portanto, a aplicação da análise da contração pós-sistólica no contexto e isquemia miocárdica é ampla e bem documentada.
Já em relação ao alongamento o mesmo não pode ser dito, sendo necessário ainda dados mais robustos na literatura à cerca de seu significado em condições patológicas.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.