Comunicação Interventricular: revisão prática

As comunicações interventriculares (CIV) representam cerca de 20% de todas as cardiopatias congênitas, com prevalência ligeiramente maior no sexo feminino. Podem ser defeitos únicos ou múltiplos e se dividem em:

– Perimembranosas (80%)

– Musculares (5-20%)

– Justa-arteriais (5-7%)

– de via de entrada (5-8%)

As CIVs aumentam o fluxo pulmonar e, consequentemente, o retorno venoso para as câmaras esquerdas, levando à dilatação das mesmas.

Quando as comunicações são pequenas, existe um gradiente maior entre as câmaras ventriculares, na maioria das vezes, com shunt da esquerda para a direita. Quando são maiores, as pressões interventriculares tendem a se igualar, com shunts bidirecionais podendo ocorrer, na dependência das resistências vasculares pulmonar e periférica.

À ausculta, quanto maior for a CIV, menor tende a ser a intensidade do sopro, justamente pela equalização das pressões. As CIVs musculares e perimembranosas podem se fechar espontaneamente durante a vida fetal ou nos primeiros meses/anos de vida.

Então quais são os objetivos do ecocardiograma na análise das CIVs?

– Precisar a localização e o número de defeitos;

– Medir as dimensões ortogonais (paraesternal eixo curto para a dimensão ântero-posterior e paraesternal eixo longo para a dimensão súpero-inferior);

– Buscar ativamente defeitos de inserção das cordoalhas, defeitos valvares e dos aparatos subvalvares (nos defeitos de via de entrada e justa-arteriais) e avaliar minuciosamente a via de saída do ventrículo direito;

– Medir o gradiente máximo do fluxo interventricular, com Doppler contínuo e pulsátil;

– Avaliar a movimentação do septo interventricular (SIV) na sístole e na diástole (a sobrecarga de pressão ventricular direita pode levar a abaulamento do SIV para a esquerda);

– Buscar outros defeitos estruturais associados (comunicações interatriais, persistência do canal arterial, estenose pulmonar, coarctação da aorta, persistência de veia cava superior e esquerda);

– Avaliar tamanho das câmaras cardíacas e função dos dois ventrículos.

A seguir, vamos ver algumas imagens de CIVs perimembranosas (as mais comuns):

Eixo Longo Paraesternal. Pode-se visualizar o defeito do septo interventricular (SIV), assim como presença de desalinhamento do SIV (presente, por exemplo, na tetralogia de Fallot).
Eixo longo paraesternal. CIV perimembranosa. VSD: defeito do septo interventricular. LV: ventrículo esquerdo. RV: ventrículo direito. LA: átrio esquerdo. MV: valva mitral. AV: valva aórtica.
Eixo curto paraesternal. As CIVs perimembranosas são visualizadas entre a valva tricúspide e a valva aórtica, aproximadamente das 8 às 11 horas.
Eixo curto paraesternal. CIV perimembranosa. VSD: defeito do septo interventricular. RA: átrio direito. TV: valva tricúspide. AV: valva aórtica. RVOT: via de saída do ventrículo direito. PV: valva pulmonar. MPA: tronco da artéria pulmonar.
Eixo curto paraesternal. Artérias pulmonares. Este corte permite a avaliação da repercussão hemodinâmica da CIV, uma vez que defeitos moderados a severos causam dilatação da valva, tronco e ramos pulmonares, com consequente hiperfluxo. Também é útil para avaliar a morfologia da valva pulmonar (ex.: displasias). TV: valva tricúspide. RVOT: via de saída do ventrículo direito. PV: valva pulmonar. MPA: tronco da artéria pulmonar. RPA: artéria pulmonar direita. LPA: artéria pulmonar esquerda. AV: valva aórtica.
Eixo apical 5 câmaras. Útil para avaliar o tamanho e a direção do shunt.
Eixo apical de 5 câmaras. CIV perimembranosa. VSD: defeito do septo interventricular. LV: ventrículo esquerdo. RV: ventrículo direito. LA: átrio esquerdo. MV: valva mitral. AV: valva aórtica.
Subcostal eixo longo. Útil para visualização de CIVs, prolapso e refluxo valvar aórticos.
Subcostal eixo longo. CIV perimembranosa. VSD: defeito do septo interventricular. RV: ventrículo direito. LV: ventrículo esquerdo. TV: valva tricúspide. AV: valva aórtica.
Subcostal eixo longo. CIV perimembranosa. VSD: defeito do septo interventricular. RV: ventrículo direito. LV: ventrículo esquerdo. MV: valva mitral. AV: valva aórtica. Ao Arch: arco aórtico.

Na próxima semana, vamos publicar imagens dos outros tipos de CIV. Até lá! E não esquece de comentar, tirar dúvidas, sugerir temas e compartilhar com os colegas!

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Vandete Maria Larangeiras

Parabéns pela sua aula Ana Cristina, bem didática e os vídeos excelentes!!

Robinson de Jesus Freire

AGORA EU SEI QUAL E A DIFERENÇA DA CIV PARA O SOPRO

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