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Estenose Mitral
Geralmente, os pacientes com estenose mitral (sem outras cardiopatias associadas) têm o ventrículo esquerdo (VE) normal, pois toda a repercussão hemodinâmica se dá retrogradamente à lesão. O mesmo ocorre com qualquer acometimento cardíaco que provoque este efeito de barreira, como tumores atriais, cor triatriatum e estenose mitral congênita.
A graduação da disfunção diastólica nestes casos não é possível, mas podemos e devemos estimar as pressões atriais esquerdas do leito capilar pulmonar e pressões de enchimento do ventrículo esquerdo.
Fazemos isso avaliando os seguintes índices:
- Para estimar as pressões de enchimento do VE:
- TE – Te’. Quando o VE tem alteração de relaxamento, a onda e’ obtida pelo Doppler tissular no anel mitral, além de estar com velocidade reduzida, ocorre mais tardiamente em relação ao início da onda E do fluxo mitral. Portanto, diferenças maiores implicam alteração da função diastólica do VE.
- Para estimar pressões do AE e do leito capilar pulmonar (PCP):
- Tempo de relaxamento isovolumétrico (TRIV). Quanto maior a pressão do átrio esquerdo (AE) no começo da diástole, mais rapidamente a valva mitral se abre e menor fica o TRIV.
- Velocidade de pico da onda E. Quanto maior a velocidade da onda E, maior a diferença de pressão entre o AE e o VE no começo da diástole.
- Velocidade de pico da onda A > 1,5 m/s. Significa que o AE possui pressões elevadas até o final da diástole.
- Relação TRIV/(TE – Te’). Dividimos o TRIV pela diferença de tempo encontrada entre o início da onda E do fluxo mitral e o início da onda e’ do Doppler tissular do anel mitral. Um índice < 4,2 é capaz de identificar pressões do AE e PCP > 15 mmHg.
Insuficiência Mitral
A avaliação da função diastólica do VE pode ser realizada da forma habitual, quando a insuficiência mitral (IM) é leve, mas devemos ficar atentos às alterações estruturais e hemodinâmicas produzidas pelas insuficiências moderadas e severas, pois alguns parâmetros utilizados na avaliação das pressões de enchimento do VE podem estar alterados devido à valvopatia e não ao grau de disfunção do VE.
Insuficiências moderada e severa aumentam o volume e a pressão do AE, de modo a aumentar a velocidade de pico da onda E do fluxo mitral e a reduzir o componente sistólico do fluxo das veias pulmonares para o AE (o que diminui a relação S/D do fluxo das veias pulmonares). Em casos mais severos, inclusive, o componente sistólico do fluxo das veias pulmonares se inverte, pois o refluxo é tão importante que impele o sangue a voltar ao leito vascular pulmonar).
Mais uma vez, o que podemos fazer é estimar as pressões de enchimento do VE e PCP, utilizando parâmetros menos dependentes destes fatores de confusão.
- Para avaliar as pressões de enchimento do VE em pacientes com fração de ejeção reduzida, podemos utilizar a relação E/e’.
- Para avaliar as pressões de enchimento do VE em pacientes com fração de ejeção preservada, utilizamos:
- TRIV
- TRIV/(TE – Te’). Índice menor que 3 prediz PCP > 15 mmHg
- Intervalo de tempo entre o início da Ar (A reversa) do fluxo das veias pulmonares e o início da onda A do fluxo mitral (Ar – A)
Estenose Aórtica
A avaliação da função diastólica, nestes casos, pode ser feita da forma habitual.
Insuficiência Aórtica
A avaliação da função diastólica do VE também pode ser feita da forma habitual, tomando-se o devido cuidado com o posicionamento do cursor em relação ao fluxo mitral para que não haja interferência com o jato da insuficiência aórtica.
A seguir, três imagens sobre a avaliação da função diastólica em um paciente com estenose mitral:
E então? Gostaram da revisão? Dúvidas ou sugestões, deixem nos comentários! Até o próximo post, pessoal!
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Graduada em medicina, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É pós-graduada em Cardiologia, pela Funcordis, e em Ecocardiografia, pela ECOPE. Possui título de Especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.
Excelente! Obrigada!!!
Muito obrigada, Daniella! 😀
Como vc faz para editar a imagem simultânea do dopller mitral e tecidual para cálculo do T e-é? Parabéns pelos blogs!!! Excelentes e práticos.
Olá, Eduardo! Desculpe a demora em responder (normalmente respondo no mesmo dia)! Obrigada pelo comentário! Bom… existem alguns aparelhos com software que permite a aquisição simultânea do Doppler tissular e pulsátil para o cálculo desta diferença. Não é o caso da maioria dos que utilizamos. Então o que fazemos é, em um paciente com frequência cardíaca estável, definir um ponto no ECG e, a partir dele, medir o tempo até o início de cada uma dessas ondas. Depois disto, calculamos a diferença de tempo entre as duas medidas. Consegui responder a sua pergunta? Se não, deixe novo comentário, que terei prazer em responder rapidamente! 😉