Ausência Congênita de Pericárdio: caso clínico

Na postagem anterior falamos um pouco sobre a ausência congênita do pericárdio. Agora vamos trazer um relato de caso, retirado da internet, para ilustrar como esta rara condição pode se apresentar.

Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020

Paciente masculino, 29 anos de idade, com antecedente de dislipidemia, procurou avaliação cardiológica após ir ao pronto-socorro, durante dois dias consecutivos, queixando-se de dor torácica em hemitórax esquerdo, com radiação para mandíbula, de moderada intensidade, não relacionada aos esforços, com duração aproximada de 15 minutos, ocorrendo várias vezes durante o dia e com melhora espontânea.

Em ambas as avaliações na emergência, não foram observadas nenhuma alteração durante investigação, inclusive com radiografia de tórax considerada normal, a não ser uma bradicardia sinusal no eletrocardiograma.

No consultório, apresentava pressão arterial de 116×80 mmHg e FC 47 bpm. Ao exame físico, chamava atenção um ritmo cardíaco irregular.

ECG da consulta ambulatorial – bradicardia sinusal, desvio do eixo para direita, extrassistolia atrial (Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020)

Foi, então, solicitado um teste ergométrico com protocolo de Bruce, atingindo 95% da FC máxima prevista. O exame não apresentou alterações indicativas de isquemia miocárdica, com apenas raras extrassístoles durante a fase de esforço. O paciente não relatou dor torácica durante o exame.

Ecocardiograma demonstrou um direcionamento mais posterior do ápex na janela paraesternal logitudinal (A) com janela ecocardiográfica em posição não habitual, além de (B) movimento assincrônico (paradoxal) do septo interventricular e dilatação do ventrículo direito (C) com angulação mais medial desta câmara, além de um alongamento dos átrios e uma aparência em “teardrop” (D), com um ângulo átrioventricular anormal.

Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020
Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020
Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020
Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020
Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020

Diante da suspeita de ausência do pericárdio, foi realizada uma tomografia computadorizada, confirmando esta hipótese diagnóstica.

Presença de interposição de tecido pulmonar nas áreas de ausência de pericárdio (Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020)
Presença de mínimo pericárdio residual à direita (seta) – Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020

Ainda, foi observado um segmento de um ramo marginal agudo, vindo da coronária direita, com aparente encarceramento pelo pericárdio direito residual, o que pode ser considerado um achado de risco.

Ignaszewski et al, Cardiac Eclipse: Congenital Absence of the Pericardium Manifesting as Atypical Chest Pain, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports April 2020

Dada a possibilidade de um encarceramento de um segmento coronariano, foi realizado um estudo de perfusão miocárdica, porém a cintilografia não demonstrou evidência de isquemia miocárdica e documentou contratilidade preservada em todos os segmentos ventriculares.

Quando a imagem da radiografia do tórax, realizada no hospital, foi liberada, foi possível observar alguns sinais indicativos da ausência de pericárdio, como o “snoopy´s sign” e uma rotação do coração para esquerda, bem como presença de interposição de parênquima pulmonar entre o botão aórtico e tronco da artéria pulmonar, com perda do seio cardiofrênico direito.

O paciente foi acompanhado ambulatorialmente, evoluindo sem queixas durante todo o seguimento. Apesar do achado de risco de possível encarceramento coronariano, a ausência de isquemia documentada possibilitou o emprego de tratamento conservador.

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Marco Aguiar

bom caso e bem explanado

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