Na postagem anterior falamos um pouco sobre a ausência congênita do pericárdio. Agora vamos trazer um relato de caso, retirado da internet, para ilustrar como esta rara condição pode se apresentar.
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Paciente masculino, 29 anos de idade, com antecedente de dislipidemia, procurou avaliação cardiológica após ir ao pronto-socorro, durante dois dias consecutivos, queixando-se de dor torácica em hemitórax esquerdo, com radiação para mandíbula, de moderada intensidade, não relacionada aos esforços, com duração aproximada de 15 minutos, ocorrendo várias vezes durante o dia e com melhora espontânea.
Em ambas as avaliações na emergência, não foram observadas nenhuma alteração durante investigação, inclusive com radiografia de tórax considerada normal, a não ser uma bradicardia sinusal no eletrocardiograma.
No consultório, apresentava pressão arterial de 116×80 mmHg e FC 47 bpm. Ao exame físico, chamava atenção um ritmo cardíaco irregular.
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Foi, então, solicitado um teste ergométrico com protocolo de Bruce, atingindo 95% da FC máxima prevista. O exame não apresentou alterações indicativas de isquemia miocárdica, com apenas raras extrassístoles durante a fase de esforço. O paciente não relatou dor torácica durante o exame.
Ecocardiograma demonstrou um direcionamento mais posterior do ápex na janela paraesternal logitudinal (A) com janela ecocardiográfica em posição não habitual, além de (B) movimento assincrônico (paradoxal) do septo interventricular e dilatação do ventrículo direito (C) com angulação mais medial desta câmara, além de um alongamento dos átrios e uma aparência em “teardrop” (D), com um ângulo átrioventricular anormal.
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Diante da suspeita de ausência do pericárdio, foi realizada uma tomografia computadorizada, confirmando esta hipótese diagnóstica.
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Ainda, foi observado um segmento de um ramo marginal agudo, vindo da coronária direita, com aparente encarceramento pelo pericárdio direito residual, o que pode ser considerado um achado de risco.
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Dada a possibilidade de um encarceramento de um segmento coronariano, foi realizado um estudo de perfusão miocárdica, porém a cintilografia não demonstrou evidência de isquemia miocárdica e documentou contratilidade preservada em todos os segmentos ventriculares.
Quando a imagem da radiografia do tórax, realizada no hospital, foi liberada, foi possível observar alguns sinais indicativos da ausência de pericárdio, como o “snoopy´s sign” e uma rotação do coração para esquerda, bem como presença de interposição de parênquima pulmonar entre o botão aórtico e tronco da artéria pulmonar, com perda do seio cardiofrênico direito.
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O paciente foi acompanhado ambulatorialmente, evoluindo sem queixas durante todo o seguimento. Apesar do achado de risco de possível encarceramento coronariano, a ausência de isquemia documentada possibilitou o emprego de tratamento conservador.
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Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
bom caso e bem explanado