Apêndice Atrial Esquerdo com Duplo Orifício:

Na última postagem fizemos uma revisão sobre o apêndice atrial esquerdo (AAE) e ficou evidente como essa estrutura é anatomicamente complexa.

Trago aqui um relato de caso que corrobora esse conceito e exemplifica como a avaliação ecocardiográfica do AAE por ser desafiadora.

Rhee et al, CASE: Cardiovascular Imaging Case Reports,
2023

Paciente masculino, 63 anos, com história de fibrilação atrial (FA) persistente e taquicardiomiopatia, encaminhado para realização de ablação por radiofrequência. Sem relato de procedimentos cirúrgicos prévios, estava em uso anticoagulação oral.

Ecocardiograma transesofágico pré procedimento evidenciou uma membrana fina, transversal ao óstio do AAE, com presença de fluxo entre o átrio esquerdo e o AAE pelo Doppler.

A avaliação pela ecocardiografia 3D caracterizou o AAE como tendo formato em “chicken wing” e confirmou a presença de uma membrana no óstio com dois orifícios distintos.

Não foram observados trombos no interior do AAE ou do AE e a tomografia computadorizada, também realizada antes do procedimento, demonstrou uma membrana com duplo orifício no óstio do AAE, medindo 15,2 mm² e 24,2 mm² cada. O paciente realizou ablação sem intercorrências.

As alterações do AAE são consideradas raras e variáveis, podendo ocorrer desde agenesia congênita (ver post) até aneurisma do AAE (ver post). A presença de membrana envolvendo o óstio do AAE também é considerada um evento raro, com poucos relatos na literatura.

Apesar de não haver uma nomenclatura formal, as membranas podem ser classificadas como completas x parciais e obstrutivas x não obstrutivas.

Essas membranas funcionariam como uma ligadura cirúrgica do AAE que não foi bem sucedida ou como um leak de dipositivo de oclusão percutânea, promovendo estase e aumentando ainda mais o risco de formação de trombos. A importância da área do orifício, bem como da velocidade de fluxo, contudo, ainda não é bem conhecida.

Ainda não é amplamente conhecido se há algum tipo de relação entre a presença de membrana com FA. Da mesma forma, a forma correta de conduzir esses pacientes também é desconhecida. Portanto, estudos futuros são necessários para que haja uma padronização morfológica, bem como para a observação de desfechos à longo prazo.

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