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FLUXO DE CORONÁRIAS E RESERVA DE FLUXO CORONARIANO
Em casos em que há circulação colateral e nas hipertrofias ventriculares por mutação sarcomérica os vasos perfurantes provenientes das artérias descendentes anterior e posterior, assim como colaterais que transitam da região subepicárdica para a região subendocárdica podem ser visualizadas com o Doppler em cores e registradas com o Doppler pulsátil (1).
Ramos perfurantes septais
Estes vasos podem ser identificados na porção média do ramo descendente anterior da coronária esquerda, com o fluxo originado da artéria epicárdica e dirigindo-se em direção ao endocárdio (Figura 20).
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Nos ramos perfurantes septais o fluxo se dirige do endocárdio para o epicárdio e, em geral, o fluxo sistólico é retrógrado (Figura 21).
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É possível detectar o fluxo das artérias perfurantes do ramo descendente posterior da coronária direita (Figura 22).
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Artérias colaterais
Em pacientes com cardiomiopatias hipertrófica de origem genética, são observados com muita frequência vasos dilatados dirigindo-se da região subepicárdica para a região subendocárdica, destinados a suprir de sangue as regiões hipertróficas (2). As velocidades do fluxo costumam estar aumentadas e os vasos são localizados nas regiões de maior hipertrofia (Figura 23).
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Avaliação de revascularização miocárdica
O fluxo das anastomoses pode ser avaliado em pacientes revascularizados (3). A utilização do fluxo de coronárias em by-pass mamário-coronário foi uma das primeiras aplicações da ecocardiografia de coronárias, utilizado para verificar a patência das anastomoses. O fluxo da artéria torácica interna (mamária interna) normal é trifásico, característico das artérias sistêmicas (Figura 24).
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Quando conectado ao sistema coronário por meio de um by-pass, adquire as características de fluxo coronariano, bifásico, com predomínio diastólico (Figura 25).
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Em alguns casos é possível detectar a anastomose entre as pontes de safena e as coronárias. O fluxo dentro da veia é sistólico, mas enche o vaso coronário durante a diástole (Figura 26).
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Avaliação da microcirculação coronariana
Em pacientes que apresentam sinais de isquemia miocárdica com cineangiografia normal ou com lesões que não justificam a sintomatologia, a RFC pode ser útil na avaliação da microcirculação coronária.
As principais condições que alteram a microcirculação coronariana são o diabetes, as dislipidemias, a hipertrofia ventricular (primária ou secundária a HAS), o tabagismo e as doenças infiltrativas do miocárdio.
Nos pacientes com hipertrofia miocárdica o remodelamento concêntrico produz o aumento da espessura da camada média das arteríolas intramurais e a diminuição do número de vasos capilares por unidade de músculo, pelo aumento da massa miocárdica, sem incremento do número de vasos (4). Como a resistência oferecida pelos vasos capilares é menor do que a oferecida pelas arteríolas intramiocárdicas, este último fator, associado às alterações teciduais do miocárdio (aumento da massa dos miócitos e presença de fibrose intersticial), parece ser o maior responsável pela diminuição da reserva do fluxo coronariano, devendo contribuir também as alterações endoteliais.
Alterações devidas a causas morfológicas, associadas ou não às alterações endoteliais, são bem menos conhecidas e frequentemente subestimadas, podendo provocar precordialgia e até isquemia miocárdica com artérias coronárias epicárdicas normais.
Em estudo realizado com 32 pacientes com insuficiência renal crônica, hipertensão arterial e hipertrofia miocárdica significativa sem lesão coronária significativa na angiocoronariografia, observamos significativa diminuição da RFC quando comparados com indivíduos normais (Figura 27).
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Considerações finais
A obtenção do fluxo das artérias coronárias requer treinamento específico e regulagem adequada do equipamento de ecocardiografia, mas é perfeitamente factível.
- Para o ramo descendente anterior da coronária esquerda a exequibilidade é de 70% a 100% (5).
- Para o ramo descendente posterior da coronária direita a exequibilidade é de 54% a 83% (6).
- Para o ramo circunflexo da coronária esquerda e exequibilidade é de 38% a 57% (7).
Bibliografia
- Sousa CG, Castillo JM, Mazzarollo C, et al. Análise comparativa do padrão de fluxo de artérias coronárias nas hipertrofias miocárdicas secundárias e por mutação sarcomérica. Arq Bras Cardiol: Imagem Cardiovasc 2021; 34(1):eabc131.
- Castillo JM, Herzkowicz N, Hotsumi RS, et al. Avaliação da microcirculação coronariana em pacientes com hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo. Rev Bras Ecocardiogr 2007; 20(1):34.
- Castillo JM. Fluxo de reserva coronariano em enxertos: mamária e safena. In Camarozano AC, Weitzel LH. Ecocardiografia de Estresse e Contraste, 2da Edição, Cap 9-3, Revinter, 2013.
- Motz W, Schwartzkopff B, Vogt M. Hypertensive heart disease: cardio reparation by reversal of interstitial collagen in patients. Eur Heart J. 1995; 16 (Suppl C): 69.
- Rigo F, Murer B, Ossena G, et al. Transthoracic echocardiographic imaging of coronary arteries: tips, traps, and pitfalls. Cardiovasc. Ultrasound 2008. 6:7.
- Lethen H, Tries HP, Kerstin S, et al. Validation of noninvasive assessment of coronary flow velocity reserve in the right coronary artery. European Heart Journal 2003, 24:1567.
- Auriti A, Pristipino C, Cianfrocca C, et al. Distal left circumflex coronary artery flow reserve recorded by transthoracic Doppler echocardiography: a comparison with Doppler-wire. Cardiovasc. Ultrasound 2007, 5:22.
![Foto-Castillo-atualizada.png](https://blog.escolaecope.com.br/wp-content/uploads/2021/06/Foto-Castillo-atualizada.png)
É doutor em medicina, especialista em Cardiologia (SBC) e especialista em Ecocardiografia.
Curriculum completo disponível na Plataforma Lattes
(http://lattes.cnpq.br/4922446519082204)