Embolia pulmonar pode ser uma condição desafiadora do ponto de vista diagnóstico. Muitas vezes ocorre no contexto de paciente crítico (em que um diagnóstico rápido pode ser a diferença entre uma boa evolução e desfechos desfavoráveis) e, nesse cenário, o uso de ferramentas diagnósticas à beira do leito pode ser crucial.
O famoso sinal de McConnell (já discutido aqui no blog) é amplamente conhecido, mas você sabia que existe um outro achado ecocardiográfico cuja especificidade é semelhante ao deste sinal ?
Acontece que, por se tratar de uma avaliação da contratilidade segmentar do ventrículo direito (VD), a presença de hipocinesia da parede livre do VD, mas com normocontratilidade (e até mesmo hipercontratilidade compensatória) da região apical – padrão característico do sinal de McConnell – pode também ocorrer em casos de infarto agudo do ventrículo direito, não sendo possível, portanto, diferenciar estas duas condições (embolia pulmonar aguda x infarto de VD) – obviamente que o contexto clínico pode ser a diferença, mas muitas vezes estamos diante de um paciente crítico e em franca instabilidade hemodinâmica.
Em avaliação retrospectiva de 161 pacientes divididos em dois grupos (grupo 01: embolia pulmonar aguda – 107 pacientes x Grupo 02: infarto de VD – 54 pacientes) que tiveram o estudo ecocardiográfico realizado, Casazza et al., identificou a presença do sinal de McConnell em 70% dos pacientes com embolia pulmonar e em 67% dos pacientes com infarto do VD, estando ausente em 32 pacientes do grupo 01 e em 18 pacientes do grupo 02 (P = 0.657).
Portanto, o uso de critérios auxiliares pode ser fundamental para o correto diagnóstico à ecocardiografia.
A análise do fluxo na via de saída do ventrículo direito pode indicar um aumento da pós carga. A velocidade do tempo de aceleração (TAC) – tempo entre o início até o pico do fluxo – se correlaciona com a pressão arterial pulmonar.
Uma redução do TAC (valores normais > 100 ms), ou seja um aceleração do fluxo, associado a uma desaceleração mesossistólica (vista como um entalhe na curva do fluxo) normalmente é observada em situações de aumento da impedância arterial pulmonar.
A medida deve ser feita na janela paraesternal eixo curto, através do Doppler pulsátil, com o cursor alinhado ao fluxo na via de saída do VD e posicionado no logo abaixo da valva pulmonar.
Quando ≤ 60 ms ASSOCIADO a um gradiente de pico do refluxo tricúspide (não considerando a pressão estimada do átrio direito) > 30 mmHg e ≤ 60 mmHg temos o dito “60/60 echo sign”.
É considerado um achado de baixa sensibilidade, porém de especificidade elevada (94%). Desta forma, a ideia não é comparar para saber qual sinal é “melhor” que o outro, mas sim utilizá-los de forma complementar, aumentando assim a acurácia diagnóstica.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.