TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO: Cardiotoxicidade por antraciclinas detectada pelo Strain Longitudinal Global.
MODALIDADE: Relato de caso.
AUTORES: José Augusto de Mello Filho e Carlyle Góis Mirada
ORIENTADOR: Prof. José María del Castillo
O uso da quimioterapia (QT) através de determinadas drogas aumenta o risco de cardiotoxicidade e consequentemente de disfunção ventricular. A insuficiência cardíaca é a complicação cardiovascular mais temida relacionada à QT, dentre a qual o grupo das antraciclinas apresenta a maior incidência de complicações.
O diagnóstico ecocardiográfico se dá pela diminuição de 10% da fração de ejeção (FE) abaixo do limite inferior da normalidade. A queda de mais de 15% do Strain Longitudinal Global (SLG) do basal sugere cardiotoxidade. Por isso, a importância da realização do strain, uma modalidade de imagem avançada para diagnóstico precoce de disfunção ventricular através da deformação miocárdica.
As antraciclinas constituem um grupo de antineoplásicos reconhecidamente eficazes no tratamento de linfomas, leucemias, sarcomas e câncer de mama. Alguns fatores de risco estão associados à maior chance de cardiotoxicidade precoce ou tardia, tais como:
- Idade menor que 18 anos ou maior que 65 anos;
- Sexo feminino;
- Dose cumulativa excedida;
- Duração de administração;
- Doenças cardiovasculares prévias (hipertensão arterial, doença arterial coronariana).
A incidência de cardiotoxicidade em adultos é estimada em 40% e a taxa de mortalidade em doentes oncológicos que apresentaram cardiotoxicidade é elevada, superior a 60% em dois anos. Tal desfecho clínico pode ser evitado com prevenção e detecção precoce.
Assim, esse estudo tem como objetivo relatar o caso de uma paciente portadora de câncer, que em 3 meses após o início da QT evoluiu com quadro de cardiotoxicidade evidenciada pelo SLG. Foram evidenciadas alterações ecocardiográficas precoces antes mesmo de apresentar repercussões clínicas. Portanto, este trabalho visa enfatizar a importância do SLG no acompanhamento de doentes em tratamento oncológico, evitando as complicações cardiológicas relacionadas à QT, norteando a terapêutica clínica.
Paciente de 54 anos, do sexo feminino, procurou atendimento médico por nodulação em mama esquerda. Após diagnóstico com mamografia e biópsia do nódulo de carcinoma de mama, foi proposto terapia com QT com doxorrubicina.
Realizado ECOTT no serviço da Escola de Ecocardiografia de Pernambuco (ECOPE) em outubro de 2016, antes do início do tratamento, sendo observado uma boa função ventricular.
Durante o acompanhamento, foi realizado novo ECOTT, após três meses do início da QT, para seguimento clínico. Foi constatada uma queda 18,8% para 15,9% do SLG (queda de 15,4% em relação ao exame basal), porém ainda com manutenção da FE do ventrículo esquerdo. Neste caso, como FE do ventrículo esquerdo se encontrava normal, a paciente estava assintomática, porém com a redução do SLG, foi possível detectar precocemente a cardiotoxicidade pela QT.
Após seis meses do início da QT, em abril de 2017, novo ECOTT na ECOPE foi realizado, e pôde ser observado uma diminuição ainda maior do SLG para 12,8%, o que corresponde ao uma redução de 31,9% em relação ao exame inicial. Neste exame, também foi evidenciado uma redução da FE do ventrículo esquerdo.
A cardiotoxicidade pelo antracíclico é uma entidade já bem conhecida na literatura médica. Neste caso, a paciente com câncer de mama iniciou tratamento quimioterápico com a doxorrubicina. Após 3 meses do uso dessa medicação, apresentou alterações ecocardiográficas precoces evidenciadas pela redução da medida do SLG, antes mesmo da queda da FE. Essa queda do SLG foi ainda maior após 6 meses, quando o ECOTT evidenciou também a diminuição da FE. A aferição do SLG faz-se necessária para o acompanhamento de pacientes oncológicos, os quais podem ter complicações irreversíveis a depender do estágio avançado na qual se encontram. Assim, torna-se possível determinar um tratamento adequado e precoce.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
MUITO BOM