A síndrome da descompressão pericárdica é uma condição rara caracterizada por uma piora clínica hemodinâmica, de forma paradoxal, após realização de pericardiocentese sem complicações e normalmente é descrita em pacientes com hipertensão pulmonar e disfunção ventricular direita.
Acredita-se que 03 mecanismos podem estar relacionados ao surgimento desta síndrome.
(1) Nos pacientes com disfunção ventricular direita, o aumento da pressão intrapericárdica em razão do derrame atua como uma forma de “restringir” (comprimir) o ventrículo direito (VD) e a redução abrupta desta pressão (ao se realizar a retirada do líquido intrapericárdico) levaria a um aumento desta cavidade por aumento do retorno venoso.
O aumento do retorno venoso no leito pulmonar, por sua vez, encontra um cenário de resistência vascular (pós carga) cronicamente elevada (já que normalmente a síndrome ocorre em pacientes com hipertensão pulmonar) levando a um “mismatch” entre as pré e pós cargas, precipitando, de forma aguda, disfunção ventricular.
(2) A distensão exacerbada do VD associada ao aumento da pressão diastólica final após a drenagem do líquido pode levar a uma redução da pressão de perfusão no leito coronariano do ventrículo direito e, por consequência, a isquemia.
(3) Redução do estímulo simpático após a resolução do status hemodinâmico de tamponamento. Então, o VD sobrecarregado aumenta ainda mais seu diâmetro, deslocando ainda mais o septo interventricular em direção ao ventrículo esquerdo, reduzindo, assim, o débito cardíaco.
Em cerca de 60% dos casos, os pacientes apresentam histórico de alguma doença maligno e em 40%, o derrame pericárdico tem etiologia neoplásica. A incidência da síndrome da descompressão pericárdica é estimada em torno de 5% dos procedimentos, embora pequenas séries de casos tenham demonstrado incidências mais elevadas.
Costuma ser um quadro transitório e pacientes com fração de ejeção reduzida do ventrículo esquerdo, passado de radioterapia, calcificação pericárdica ou doenças do tecido conjuntivo parecem estar sob maior risco de desenvolver esta complicação.
A Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) recomenda a realização de pericardiocentese de forma paulatina/gradativa e se limitando à retirada de no máximo 01 litro de líquido por vez. Contudo sabemos que quantidades bem menores de líquido retirado podem ser suficientes para provocar a síndrome da descompressão pericárdica (lembrem-se que não só “volume” importa, mas também a variável “velocidade”).
Em uma série de casos, Thabet et at., propõe uma abordagem manométrica de pericardiocentese, medindo a pressão intrapericárdica durante a drenagem e devendo se limitar à retirada até que essa pressão chegue em 10 mmHg. Esse tipo de cuidado, porém, ainda não foi validado e, portanto, não faz parte das recomendações das principais diretrizes.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
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