Síndrome da Descompressão Pericárdica: relato de caso

Na última postagem falamos sobre a síndrome da descompressão pericárdica e agora vamos ilustrar, através de um caso clínico, como esta rara condição pode se manifestar na prática.

https://doi.org/10.1016/j.case.2024.05.005

Mulher, 59 anos de idade, com diagnóstico recente de COVID-19 é admitida no pronto-socorro com adinamia e dor nas extremidades inferiores. Portadora de cardiomiopatia isquêmica com fração de ejeção melhorada, com último ecocardiograma mostrando FE 49%, função sistólica do ventrículo direito (VD) normal (TAPSE 2,1 cm), refluxo valvar mitral moderado, bem como regurgitação tricúspide moderada.

Ainda, tinha histórico de episódio de taquicardia ventricular há 13 anos e necessidade de implante de cardiodesfibrilador (CDI) com ressincronização, além de fibrilação atrial crônica (em uso de varfarina), doença renal crônica estágio IV e passado de carcinoma de células renais com status pós nefrectomia radical à direita 01 ano antes da admissão atual. Há 03 anos, a paciente foi submetida à gastroplastia em razão de obesidade.

Ao exame físico, paciente apresentava-se com frequência cardíaca de 70 bpm, pressão arterial 93×76 mmHg, SpO2 95% em ar ambiente e com temperatura normal. Ritmo cardíaco regular, contudo com bulhas hipofonéticas. Havia turgência jugular patológica e extremidades frias.

Exames complementares demonstrando injúria renal crônica com acidose láctica e hipercalemia, com IRN de 11 (!!!). Radiografia de tórax com aumento da silhueta cardíaca e eletrocardiograma com ritmo de marcapasso (FC 70 bpm) e baixa voltagem.

https://doi.org/10.1016/j.case.2024.05.005
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Foi iniciado terapia vasopressora associada a antibioticoterapia empírica diante da possibilidade de sepse. Medidas para reversão da coagulopatia foram instituídas com sucesso, além de diálise contínua.

Ecocardiograma à beira do leito mostrou função ventricular esquerda preservada (FE 60%), disfunção sistólica do VD (FAC 32%), hipertensão pulmonar (PSAP 45 mmHg) e presença de volumoso derrame pericárdico circunferencial, com movimento assincrônico diastólico do septo interventricular e colapso do VD.

https://doi.org/10.1016/j.case.2024.05.005
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Logo em seguida, enquanto a pericardiocentese era organizada, a paciente evoluiu com parada cardiorrespiratória em atividade elétrica sem pulso, com retorno à circulação espontânea após 10 minutos de manobras de ressuscitação cardiopulmonar.

Foi, então, realizada pericardiocentese com drenagem de 600 mL de líquido pericárdico hemático, posteriormente confirmado pela análise celular. Após o procedimento não houve melhora significativa do estado hemodinâmico da paciente.

O CDI foi reprogramado para uma frequência cardíaca mínima de 100 bpm (saindo dos 70 bpm previamente determinado) para aumentar o débito cardíaco, após a qual houve uma melhora temporária da pressão arterial.

Posteriormente, porém, a paciente voltou a apresentar piora hemodinâmica. Novo ecocardiograma, realizado após 24h da pericardiocentese, não mostrou novo derrame pericárdico, contudo evidenciou disfunção biventricular e regurgitação tricúspide severa.

https://doi.org/10.1016/j.case.2024.05.005
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Foi optado por suporte circulatório mecânico, contudo a paciente continuou evoluindo com piora hemodinâmica e entrou em cuidados paliativos, indo à óbito poucos dias depois.

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