A fibrosa intervalvar mitro-aórtica é a região fibrosa avascular localizada entre o folheto anterior da valva mitral e o folheto não coronariano da valva aórtica.
Apesar de avascular, essa estrutura é propensa à complicações, como por exemplo de processos infecciosos (endocardite) e iatrogênicos (pós troca valvar aórtica). Embora raro, o pseudoaneurisma da fibrosa mitro-aórtica é uma condição que vem sendo cada vez mais descrita dado o avanço nas técnicas de imagem em cardiologia.
Caracterizado como uma formação sacular (em bolsa) entre a aorta e a valva mitral com extensão superior e posterior, contígua com a via de saída do ventrículo esquerdo o que a diferencia de um abscesso.
À ecocardiografia, se mostra como uma região sacular anecóica localizada entre o folheto anterior da valva mitral e a região posterior da raiz de aorta. Uma marca característica é a presença de expansão sistólica e colapso diastólico desta estrutura, além da comunicação com a via de saída do ventrículo esquerdo (VSVE).
Durante a sístole, o fluxo sanguíneo vai do ventrículo esquerdo (VE) em direção ao pseudoaneurisma, enquanto que na diástole não há fluxo uma vez que, nesta fase do ciclo cardíaco, o sangue volta para a VSVE levando ao colapso do pseudoaneurisma.
O Doppler colorido mostra fluxo pulsátil no pseudoaneurisma e pode auxiliar no diagnóstico de complicações, como ruptura. Quando ocorre fístula entre a VSVE e a aorta, a pulsação do pseudoaneurisma se torna menos proeminente. Já quando há ruptura para o pericárdio, derrame pode ocorrer com ou sem tamponamento.
Endocardite infecciosa acometendo a valva aórtica constitui uma das principais causas do pseudoaneurisma, sendo os Staphylococcus e o Streptococcus spp os agentes etiológicos mais frequentes. Já o trauma cirúrgico, sem presença de infeccção associada, é a segunda causa mais comum. Apesar de mais comumente se relacionar com a troca valvar aórtica, esta condição já foi relatada como complicação de ablação, correção de defeitos do septo interventricular e até mesmo de cateterismo cardíaco.
Sinais e sintomas de infecção em atividade são as manifestações mais frequentes (40%), seguido de sintomas de insuficiência cardíaca (16%). Acidente vascular encefálico e outros eventos embólicos correspondem por aproximadamente 12% das manifestações iniciais e dor torácica chega a ser relatada em 10% dos casos. Contudo, um curso clínico assintomático pode ser observado em até 10% dos pacientes, sobretudo na ausência de complicações.
Além da ruptura, complicações incluem compressão de estruturas adjacentes, principalmente da artéria circunflexa, causando angina. Compressão da artéria pulmonar pode ocorrer, levando à hipertensão pulmonar.
Formação de fístula pode ocorrer entre a VSVE e o átrio esquerdo ou aorta. Já a ruptura tende a ser uma complicação com alta mortalidade, sobretudo se ocorrer para o pericárdio e evoluir com tamponamento cardíaco.
Na presença de algum tipo de complicação, a abordagem cirúrgica deve ser indicada. Já casos sem complicações associadas apresentam um curso clínico incerto, embora haja relatos recentes de casos conduzidos clinicamente e com acompanhamento cardiológico rigoroso, com boa evolução em seguimentos de 5 anos.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.