Não Compactação do Ventrículo Esquerdo: relato de caso

Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Ecocardiografia ECOPE/UNICAP de Dra. Astrid Rocha Meirelle Santos

Orientador: Dr. José Castillo

Doença genética rara, com alteração miocárdica que tem origem no período embrionário e já revisada aqui no blog. Desta vez, vamos trazer um relato de caso (adaptado para o modelo do blog) publicado pela colega Astrid Rocha Meirelles Santos como trabalho de conclusão de curso da pós graduação da ECOPE.

  • RELATO:
    • paciente feminino, 62 anos, admitida em hospital de referência com queixa de dispneia progressiva, iniciada há 11 dias, com piora significativa nas últimas 24h, quando passou a apresentar em repouso. Queixava-se também de palpitações taquicárdicas e sensação de sufocamento. Negava problemas cardiovasculares prévios e não vinha em uso de medicações.
    • Ao exame: apresentava-se levemente dispneica, com FR de 24 irpm, FC 82 bpm e PA 100×70 mmHg. O ritmo cardíaco estava regular com períodos de irregularidades (extrassistolia), a ausculta pulmonar revelava creptações no 1/3 inferior bilateralmente e observava-se discreto edema maleolar em membros inferiores.
    • ECG e Radiografia de tórax:
ECG: ritmo sinusal, eixo para esquerda (bloqueio divisional anterossuperior esquerdo), bloqueio de ramo esquerdo (QRS 160 ms), extrassístoles supraventriculares;
Rx Tórax: aumento da área cardíaca (índice cardio-torácico > 0,5), congestão para-hilar e infiltrado intersticial difuso com cefalização de trama vascular
    • Laboratorialmente, notava-se aumento do NT-ProBNP (1200 pg/ml).
    • Holter 24h: extrassístoles supraventriculares frequentes com períodos de taquicardia atrial não sustentada; extrassístoles ventriculares frequentes, polimórficas, pareadas, e episódios de taquicardia ventricular polimórfica não sustentada;
    • Cateterismo cardíaco: ausência de doença arterial obstrutiva;
    • Ecocardiograma:
      • FE 24% com hipocinesia difusa das paredes e aumento moderado do VE;
      • AE com aumento leve;
      • Insuficiência mitral importante (funcional) e insuficiência tricúspide moderada;
      • Disfunção sistólica do VD;
      • PSAP 63 mmHg;
      • Acentuada trabeculação do VE, predominantemente em parede apical e lateral;
      • Relação miocárdio não compactado/miocárdio compactado > 4:1;
      • Doppler demonstrando fluxo entre os recessos trabeculares;
Janela Apical 4C: trabeculações em região apical e anterolateral;
Paraesternal longitudinal eixo curto: trabeculações com Doppler demonstrando fluxo nos recessos trabeculares;
Relação não compactado/compactado > 4

Diante dos achados ecocardiográficos, foi definido diagnóstico de miocárdio não compactado e iniciado tratamento com betabloqueador, inibidor da enzima de conversão da angiotensina, diurético de alça e anticoagulação oral. A paciente, que desconhecia história familiar relacionada à essa condição, recebeu alta com programação de seguimento ambulatorial.

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