MECANISMOS DE ADAPTAÇÃO DO VENTRICULO DIREITO – PARTE 2.

Como funciona o VD?

Para tentar entender o funcionamento do VD devemos sair da caixa e avaliar vários fatores:

Arquitetura da distribuição miofibrilar e seus efeitos na mecânica ventricular.

Segundo as novas evidências anatômicas, a conformação helicoidal do VE, onde há três camadas musculares (banda basal, com fibras circulares; banda apical descendente com fibras longitudinais e banda apical ascendente com fibras oblíquas) cruzadas a 90 graus que promovem a rotação basal e apical em sentidos opostos, resultando em movimento de torção (twist). Esta conformação não se repete no VD, onde as fibras são predominantemente longitudinais subendocárdicas da banda apical e circulares da banda basal, com algumas fibras subepicárdicas da banda apical. O cruzamento entre as camadas não é significativo, o que resulta em encurtamento longitudinal predominante (Figura 3).

Figura 3. RMC com tractografia da região anterior dos ventrículos. 1: fibras circulares da banda basal; 2: fibras apicais subendocárdicas longitudinais da banda apical; 3: fibras apicais subepicárdicas oblíquas da banda apical, denominadas “aberrantes”.
  • Influência do VE.

A contração do VE influencia no esvaziamento sistólico do VD, não de forma predominante como se acreditava antigamente, senão de forma coadjuvante. A contração do VE, diminuindo sua circunferência durante a sístole, “puxa” a inserção anterior e posterior da parede do VD diminuindo o diâmetro transversal da cavidade e o abaulamento do septo em direção ao VD contribui para este efeito “sanfona” (Figura 4).

Figura 4. Corte de eixo menor do VE e VD pela RMC mostrando o efeito da contração do VE sobre as dimensões do VD durante o ciclo cardíaco.
  • Fatores embrionários.

Recentes evidências embriológicas sobre a formação do tubo cardíaco [5] indicam que os miócitos que formam a parede livre do VD e a via de saída do cone tronco tem origem diferente dos miócitos que formam o tubo cardíaco em geral, o que poderia explicar a resposta adaptativa peculiar desta cavidade. A maior parte das células cardíacas é formada a partir do mesênquima esplâncnico situado aos lados dos tubos cardíacos primitivos. O VD e o tronco cone provêm do mesênquima faríngeo, situado no polo cardíaco anterior (Figura 5). A resposta adaptativa dos miócitos do VE inicia com aumento da espessura dos miócitos enquanto no VD predomina o alongamento das miofibrilas seguido posteriormente pelo espessamento.

Figura 5. À esquerda: formação do tubo cardíaco com proliferação de miócitos provenientes do mesoderma esplâncnico situado a ambos os lados do tubo digestivo em formação. À direita: Marcação com corante biológico (Dil) no mesoderma faríngeo do polo cardíaco anterior notando-se, após alguns dias, que as células marcadas formam a parede livre do VD e parte da via de saída cono truncal.

Na próxima parte do Blog avaliaremos os parâmetros convencionais e avançados para análise da função do VD.

Referências.

5. Zaffran S, Kelly RG, Meilhac SN, Buckingham ME, Brown NA. Right ventricular myocardium derives from the anterior heart field. Circ Res 2004; 95:261-268.

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