Uma prática comum (e essencial) na ecocardiografia esportiva com recursos avançados é a realização do exame em dois momentos distintos: repouso e durante esforço isométrico (handgrip).
A avaliação da resposta ao esforço, neste caso, trará informações valiosas que irão nos auxiliar na diferenciação entre condições patológicas e padrão adaptativo, ou seja, é de extrema importância no contexto da famosa “zona cinzenta“.
Durante o esforço isométrico (handgrip, por exemplo) ocorre um aumento significativo das pressões diastólica e sistólica, assim como da frequência cardíaca (FC). Da mesma forma, há também um aumento da resistência vascular sistêmica e do débito cardíaco, porém com redução do volume sistólico ejetado.
Acontece que, com o aumento da pós carga, pode haver uma redução de parâmetros habitualmente utilizados para a avaliação da função ventricular esquerda, como a fração de ejeção (FE) e o strain global longitudinal (SGL), mesmo não havendo disfunção miocárdica propriamente dita.
Opa! então agora temos um problema? Depende! Você que acompanha aqui o blog já leu sobre a independência da análise do trabalho miocárdico da variável pós carga (diferentemente do strain) por incorporar a pressão arterial no seu processamento.
Sendo assim, a avaliação do trabalho miocárdico nos ajudará a entender se a redução da FE ou do SGL é patológica ou não.
Existem diferentes formas (“protocolos”) para a realização do esforço isométrico. Normalmente, utilizamos um dinamômetro digital de mão e o paciente é solicitado para utilizar força máxima. Determinada a carga máxima, é pedido, então, para que o paciente faça a manobra de forma sustentada, utilizando 30% da carga, durante 3.5 minutos aproximadamente. Após este período, as medidas ecocardiográficas são realizadas.
Alguns estudos avaliaram também pacientes utilizando 75% da carga máxima, de forma resistida, durante 01 minuto.
Está documentado que o handgrip com 15% da carga máxima, de forma resistida, já pode levar as alterações hemodinâmicas, mas isso só ocorre próximo ao momento de fadiga (ou seja, leva um certo tempo).
E qual é a resposta hemodinâmica à manobra de handgrip em indivíduos saudáveis?
Em estudo com 15 voluntários saudáveis, foi observado durante o pico do esforço isométrico uma redução da FE (63,9% x 58,8%) e do SGL (18.5% x 17.5%) em relação aos valores em repouso.
Por outro lado, neste mesmo estudo, foi documentado um aumento de 258 mmHg% do GWI , de 357mmHg% do GCW e de 98 mmHg% do GWW.
Quando avaliamos pacientes com patologias conhecidas, o padrão de reposta do trabalho miocárdico, durante o esforço isométrico, muda.
Clemmensen et al, demonstrou que a eficiência do trabalho miocárdico de pacientes com amiloidose cardíaca, durante o esforço isométrico, reduziu.
Já em pacientes hipertensos, observa-se um aumento significativo (não linear) do GWI às custas de uma hiperativação compensatória (ou seja, doença), dos segmentos apicais.
Pacientes com insuficiência cardíaca com FE preservada que iniciaram tratamento com espironolactona apresentaram melhora do GCW, mas não do SGL na análise durante o esforço.
Em análise invasiva (cateterismo cardíaco) com 72 pacientes com doença cardíaca estabelecida, foram observadas as seguintes respostas hemodinâmicas ao esforço isométrico (handgrip):
- Aumento de 17 batimentos por minuto (20%) da FC;
- Aumento de 22 mmHg (23%) da pressão sistêmica média;
- Aumento de 470 ml (18%) do índice cardíaco;
- Em pacientes com com FE reduzida, houve um aumento de 7.1 mmHg da média da pressão diastólica final do VE;
- Em pacientes com estenose mitral ou disfunção ventricular esquerda, houve aumento de 8 mmHg (21%) e de 6.8 mmHg (26%), respectivamente, da pressão pulmonar.
Tendo em mente estes padrões de respostas, a análise ecocardiográfica durante o esforço isométrico é um importante aliado em situações em que existe dúvida entre doença x padrão adaptativo.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
Vale 5 estrelas! Excelente artigo sobre um recurso fácil e muito útil
Muito bom meu amigo
Muito bom!!
Você tem os artigos de referência dos protocolos de hand grip?
Poderia compartilhar?
Oi, Juliana. Tudo bem? Os estudos usam uma prensa máxima como referência e realizam o esforço isométrico mantido com 30% da carga por pelo menos três minutos antes de iniciar a avaliação ou 75% da carga por 1 minuto ((Kardiol Pol. 2021; 79 (4): 455-457 doi:10.33963/KP.15912 – artigo que usei como referÊncia) . Na minha prática, utilizo 50% da carga máxima e inicio a análise de esforço após 01 minuto ou 01:30 (os pacientes não conseguem tolerar muito tempo pelo desconforto no punho)) … Espero que tenha ajudado.
Obrigada Caio! ☺️