Já ouviu falar em “RAC Sign”?

Dizer que as redes sociais estão cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia não é novidade para ninguém. Muitas vezes usadas por lazer, é possível, entretanto, utilizá-las como ferramenta na busca de conteúdo de qualidade com uma linguagem acessível e com didáticas cada vez mais atrativas.

Dentre os inúmeros perfis presentes nas redes, destaco aqui o ecodescomplicado, administrado pelo cardiologista e ecocardiografista Felipe Oliveira, cuja competência se mostra através de comentários quase que diários sobre o fascinante mundo da ecocardiografia. Recentemente um caso clínico foi exposto no canal e um dos questionamentos foi sobre o o “rac sign”. Como não conhecia esse sinal, resolvi compartilhá-lo por aqui para que possamos seguir juntos no aprendizado da ecocardiografia.

O termo RAC refere-se à retroaortic circunflex artery, ou seja, um trajeto anômalo da artéria circunflexa (Cx) posteriormente à aorta.

Art. Cx com origem no Seio de Valsalva DIR (porém separada da Art. Coronária DIR), com trajeto retroaórtico

As anomalias das artérias coronárias, com ou sem repercussão clínica e hemodinâmica, tem incidência estimada em aproximadamente de 0.21-5.7% dos estudos angiotomográficos, angiográficos e de autópsias. Dessas, a origem anômala da artéria circunflexa a partir do seio de valsalva direito é a anomalia mais comum relacionada às artérias coronárias. Esse diagnóstico é mais facilmente visto através do estudo angiográfico ou pela angiotomografia, contudo pode ser suspeitada através do ecocardiograma.

Alguns achados ecocardiográficos específicos foram descritos na presença desta alteração, considerada como um anomalia benigna na maioria dos casos, muito embora possa raramente estar relacionada à angina, infarto agudo do miocárdio e até morte súbita.

No estudo transtorácico, pode-se identificar uma estrutura tubular, que parece cruzar a aorta perpendicularmente em seu maior eixo, visto na janela 5 câmaras modificada (vai angulando o transdutor entre as janelas apical 4C e 5C). Este é o chamado RAC sign.

Já no ecocardiograma transesofágico, há a descrição do bleb (bolha) sign: estrutura circular na região mitroaórtica identificada no eixo longo. Por vezes, pode ser confundida como uma comunicação entre o seio de valsalva não coronariano com o átrio esquerdo.

A- eixo longo normal; B e C – Bleb sign
ESQ – Cx com origem anômala e trajeto retroaórtico, aspecto semelhante à uma comunicação com AE; DIR – reconstrução 3D da valva aórtica evidenciando Art Cx posteriormente.

Apesar de ser uma alteração considerada na maioria das vezes sem significado clínico, alguns aspectos podem estar relacionados a uma evolução maligna:

  • Ângulo de saída da artéria na origem anômala;
  • Dilatação da raiz de aorta;
  • Curso intramural (podendo resultar em compressão do segmento proximal do vaso);
  • Aterosclerose precoce (podendo ser resultado de fluxo turbulento pelo trajeto anômalo).

Para terminamos, segue um exemplo de evolução não tão benigna de uma artéria Cx com trajeto anômalo retoraórtico: homem, 48 anos de idade, hipertenso e diabético, com história de angina há 03 meses. Durante investigação complementar, realizou ecocardiograma que demonstrou ventrículo esquerdo com fração de ejeção preservada e hipocinesia dos segmentos basal e médio da parede inferolateral, além dos achados citados nesta postagem, sugerindo trajeto anômalo de Cx. Ecocardiograma com estresse farmacológico mostrou acinesia reversível na mesma região, sendo o paciente submetido, posteriormente, a cineangiocoronariografia:

ESQ – Cx com origem no seio de valsalva direito e com obstrução hemodinamicamente significativa no terço proxima; DIR – resultado angiográfico após implante de stent farmacológica

Paciente evoluiu sem intercorrências durante o procedimento e apresentou melhora completa do quadro anginoso no seguimento ambulatorial.

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