Por ser um método acessível e não invasivo, a ecocardiografia é uma modalidade diagnóstica amplamente utilizada e possibilita uma análise morfológica e funcional do coração em uma ampla gama de doenças cardiovasculares.
Hoje trago uma condição extremamente rara, mas que merece ser citada e que acomete a região apical do VE, denominada hipoplasia apical do VE.
Também conhecida como VE truncado, a hipoplasia apical do VE é uma cardiomiopatia incomum, com poucos casos relatados na literatura a partir de 2004.
Clinicamente pode ter uma apresentação variável, sendo assintomática (35.1%) ou apresentar todas as nuances de uma franca insuficiência cardíaca. Quando sintomática, a dispneia costuma ser a queixa mais comum (40.5%) nesses pacientes.
É mais comum entre homens (52.7%), com idade média no momento do diagnóstico de 26.1 ± 19.6 anos. Fibrilação/Flutter atrial pode ser detectada em até 24.3% dos casos e as alterações eletrocardiográfica mais associadas à esta condição foram anormalidades da onda T (29.7%) e desvio do eixo para direita com progressão lenta de onda R (24.3%).
Caracteriza-se por um ventrículo esquerdo truncado e com um formato esférico, com presença de abaulamento para a direita do septo interventricular durante a diástole associado à disfunção sistólica em mais da metade dos casos.
Um ápice defeituoso (displásico) com infiltração adiposa, além de origem anômala dos músculos papilares numa região apical achatada podem ser observados nesta condição. O ventrículo direito (VD) habitualmente encontra-se alongado, envolvendo a região apical defeituosa do VE (“ápex verdadeiro”).
Sua etiopatogenia permanece incerta e normalmente se apresenta como uma condição cardíaca isolada, embora haja alguns relatos da literatura em associação com persistência do ductus arteriosus.
O diagnóstico pode ser suspeitado pela ecocardiografia, porém muitas vezes requer a utilização da ressonância magnética (RM) do coração.
Os diagnósticos diferenciais incluem cardiomiopatia dilatada, cardiomiopatia arritmogênica, cardiomiopatia isquêmica, não compactação do VE, endomiocardiofibrose e aneurisma congênito do ventrículo esquerdo.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.