ESC 2025 – Valvopatias: doença valvar múltipla

Frequentemente nos deparamos com um paciente apresentando doença em mais de uma valva nativa, ou com a coexistência de estenose e insuficiência em uma mesma valva. Tais condições são classificadas como doença valvar múltipla.

Enquanto que a etiologia degenerativa é a principal causa em países desenvolvidos, a doença cardíaca reumática ainda é uma condição muito prevalente nos países subdesenvolvidos. Causas menos frequentes podem incluir regurgitação de valvas atrioventriculares secundária à cardiomiopatias, bem como sequela tardia de radioterapia.

Em razão de uma complexa interação hemodinâmica no cenário de múltiplas valvopatias, uma abordagem multimodalidade é mandatória. A ecocardiografia continua sendo o principal método de avaliação para determinar os mecanismos associados, definir a gravidade, avaliar os danos extra valvares e determinar o prognóstico desses pacientes.

Contudo, a interdependência hemodinâmica entre as diversas alterações valvares afeta diretamente as condições de enchimento e de fluxo, fazendo com que haja limitação de diversos parâmetros diagnósticos amplamente validados para graduar uma disfunção valvar única.

A equação de continuidade, por exemplo, pode ser afetada quando os fluxos transvalvares não são iguais. Os métodos derivados do PHT não são acurados se o enchimento ventricular estiver alterado. Nesse contexto, a ecocardiografia transesofágica pode fornecer informações cruciais tanto anatômicas quanto relacionadas aos mecanismos das disfunções valvares.

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DOENÇA VALVAR AÓRTICA MISTA:

A gravidade da disfunção valvar aórtica mista é frequentemente subestimada e os pacientes com estenose e insuficiência aórtica moderadas balanceada apresentam taxas mais elevadas de eventos adversos quando comparados com pacientes portadores de estenose aórtica importante isolada.

Os gradientes transvalvares medidos pelo Doppler refletem o estado hemodinâmico geral, gerado tanto pela estenose quanto pela insuficiência valvar e, portanto, se associam fortemente com desfechos adversos. Desta forma, a presença de elevados gradientes pressóricos justifica uma intervenção valvar em pacientes com doença valvar aórtica mista moderada, mesmo se a regurgitação for graduada como moderada e se a área valvar, calculada ou pela planimetria, for > 1 cm².

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Aqueles pacientes com doença valvar aórtica mista, porém com gradientes abaixo dos parâmetros indicativos de intervenção devem ser submetidos a uma avaliação multimodalidade para definir uma estratégia terapêutica individual.

O strain global longitudinal e a dosagem do NT pro-BNP podem conferir valor prognóstico adicional além da presença de sintomas neste contexto.

DOENÇA VALVAR MITRAL MISTA:

Contexto frequentemente observado em pacientes portadores de cardiopatia reumática ou naqueles com calcificação do anel mitral (MAC). Se uma área valvar mitral ≤ 1.5 cm², as recomendações para a estenose mitral isolada podem ser aplicadas.

Contudo, pacientes com área valvar mitral > 1.5 cm² e regurgitação mitral moderada podem ser avaliados para uma eventual troca valvar baseando-se na presença de sintomas, características anatômicas, gradiente transmitral e sinais de danos cardíacos extra valvares, como dilatação do átrio esquerdo, fibrilação atrial ou hipertensão pulmonar.

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