A cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito (VD) é uma miocardiopatia, geneticamente determinada, associada à arritmias ventriculares, sendo uma importante causa de morte súbita (MS) em jovens (inclusive entre atletas – segunda causa mais comum, ficando atrás apenas da miocardiopatia hipertrófica), correspondendo a cerca de 5-10% dos casos em pessoas < 65 anos de idade. Dados mais recentes mostram que de todas as mortes em decorrência desta doença, 10% acontece em crianças e adolescentes.
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É caracterizada por alterações estruturais e funcionais do VD resultantes da fibroliposubstituição do tecido miocárdico, levando à disfunção ventricular e arritmias malignas, com acometimento inicial do ventrículo direito.
As alterações estruturais habitualmente presentes acometem, sobretudo, as regiões infundibular, apical e subtricuspídea (o chamado “ triângulo da displasia”).
Tem prevalência estimada em 1:2500 – 1: 5000 na população geral, podendo ser mais frequentes em determinadas regiões como na Itália (Padua e Veneza) e Grécia (Ilha de Naxos), cuja prevalência pode chegar ao dobro da observada mundialmente. É mais comum entre homens, com relação 2,7/1 quando comparado com mulheres.
É uma doença de difícil diagnóstico, requerendo quase sempre a análise por diferentes modalidades de imagem. Aqui, a ressonância magnética é muito superior ao ecocardiograma. Diante de tamanha dificuldade, existe um task force de 2010 (modificado posteriormente por Homid et al) que aumenta a sensibilidade diagnóstica e envolve critérios estruturais, histológicos, eletrocardiográficos e genéticos.
- Diagnóstico definitivo: 2 critérios maiores ou 1 critério maior + 2 critérios menores ou 4 critérios menores de diferentes categorias;
- Diagnóstico boderline: 01 critério maior + 01 critério menor ou 3 critérios menores de diferentes categorias
- Diagnóstico possível: 1 critério maior ou 2 critérios menores de diferentes categorias.
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A doença pode ser dividida em 4 diferentes fases:
- Fase silenciosa: alterações estruturais presentes na ausência de sintomas (fase subclínica);
- Instabilidade elétrica: arritmias ventriculares documentas;
- Disfunção ventricular direita;
- Disfunção biventricular progressiva.
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As alterações eletrocardiográficas compreendem (1) onda T negativa em V1 até V3 (critério menor, porém muito frequente – presente em até 85% dos pacientes); (2) QRS com duração de 110 ms em V1 até V3; (3) presença de onda Epsilon (critério maior – presente em 30% dos casos).
As alterações ecocardiográficas são diversas e nem sempre fáceis de serem indentificadas em razão da limitação técnica da avaliação do VD pelo método, sobretudo quando na presença de pneumopatia associada.
Os achados principais são:
- Dilatação do VD com hipocinesia associada;
- Dilatação isolada da via de saída do VD;
- Banda moderadora hiperrefringente;
- Aneurisma de VD visualizados na diástole final;
- Discinesia/acinesia do segmento inferobasal e da região apical do VD;
- Trabeculação em excesso na região apical do VD.
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Como já falado, aqui a ressonância magnética cardíaca assume protagonismo, dada sua superioridade para caracterizar as estruturas do VD. Além da possibilidade de uma avaliação em 3D, este método consegue determinar a presença de tecido adiposo e fibrocicatricial no endocárdio.
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Em uma série com 120 adolescentes (idade média de 13 anos; 65% do sexo masculino) com suspeita de cardiomiopatia arritmogênica do VD, um dos parâmetros utilizados foi a análise do strain do ventrículo direito.
Um valor de corte de 20.4% do strain longitudinal do VD foi considerado satisfatório (sensibilidade 52,6%, especificidade 100%), significando que pacientes com strain do VD acima deste valor dificilmente preencherá critério para esta doença.
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Apesar de estudos demonstrarem strain do VD reduzido nos segmentos basais do VD, esta análise observou alteração especialmente nos segmentos apicais, particularmente na região apical lateral, associado a dilatação desta região. O strain de pico sistólico do VD se mostrou, neste estudo, como um indicador independente de doença utilizando o valor de 20.4% (este valor mais elevado possivelmente se deu pelo viés da amostragem – pacientes muito jovens e em fases muito iniciais da doença).
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Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
Excelente!!! Muito obrigada!!!