Disfunção Ventricular Direita: e a graduação?

Quando pensamos em disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (VE), automaticamente já nos vem em mente o quão significativa é esta disfunção, tendo em vista que sua graduação tem impactos prognósticos e é passo essencial para determinarmos as melhores estratégias terapêuticas.

Quando avaliamos o ventrículo direito (VD), por outro lado, habitualmente não fazemos o mesmo raciocínio, uma vez que apenas nos “limitamos” a dizer se ou não disfunção sistólica desta cavidade. Isso ocorre justamente porque as diretrizes atuais não determinam pontos de corte para definir se a disfunção é leve, moderada ou importante.

Com um entendimento cada vez maior da fisiopatologia e da evolução das doenças da valva tricúspide*, porém, o interesse em “refinar” a avaliação ecocardiográfica das câmaras direitas tem ganhado mais destaque nas publicações médicas.

*Com o avanço das terapias intervencionistas, estudos sobre a fisiopatologia, etiologia e prognóstico das doenças regurgitantes da valva tricúspide ganharam destaque, sobretudo nos últimos 10 anos.

Seria então o momento de graduarmos a disfunção ventricular direita e, a partir disso, entendermos melhor o grau de repercussão, por exemplo, de uma regurgitação tricúspide?

Hahn et al. Tricuspid Valve Disease Definitions, JACC VOL. 82, NO. 17, 2023

Neste documento publicado no JACC em 2023 voltado para a avaliação da insuficiência tricúspide (IT) há uma ênfase na avaliação das câmaras direitas, com menção a valores de corte para graduação da disfunção do VD baseado em estudos anteriores.

Sabemos que nesse contexto (regurgitação tricúspide), há uma sobrecarga volumétrica nas câmaras cardíacas direitas, levando a dilatação do átrio direito (AD), anel valvar tricúspide e do VD. Isso resultará em deslocamento dos músculos papilares e mudança da geometria ventricular, o que, por sua vez, irá piorar a disfunção valvar, levando a um ciclo vicioso caracterizado por dilatação e disfunção progressiva do VD, com piora clínica.

Hahn et al. Tricuspid Valve Disease Definitions, JACC VOL. 82, NO. 17, 2023

A avaliação da geometria ventricular direita, além de trazer dados sobre a função, pode auxiliar na identificação etiológica da disfunção da valva tricúspide.

Por exemplo, na insuficiência tricúspide funcional atrial, o ventrículo direito passa por um remodelamento que resultará numa geometria em cone, enquanto que na IT funcional ventricular, esse remodelamento levará a um formato mais esférico do VD, com dilatação proeminente médio ventricular.

Quanto à avaliação funcional, o TAPSE permanece como um parâmetro útil uma vez que reflete o encurtamento longitudinal do ventrículo direito, mecanismo este que é responsável por aproximadamente 80% do volume ejetado desta cavidade.

Outros parâmetros podem e devem ser usados, como velocidade da onda s´, FAC e strain do VD. Contudo, como dito anteriormente, nos limitamos a dizer se existe disfunção ou não.

O presente estudo mostra uma tabela que propõe pontos de cortes para a graduação da disfunção ventricular direita.

Hahn et al. Tricuspid Valve Disease Definitions, JACC VOL. 82, NO. 17, 2023

Chegou a hora de colocarmos em prática ???

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CARLOS ALBERTO DE CAMPOS AZEREDO

Muito bom e prático

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