Quando pensamos em disfunção sistólica do ventrículo esquerdo (VE), automaticamente já nos vem em mente o quão significativa é esta disfunção, tendo em vista que sua graduação tem impactos prognósticos e é passo essencial para determinarmos as melhores estratégias terapêuticas.
Quando avaliamos o ventrículo direito (VD), por outro lado, habitualmente não fazemos o mesmo raciocínio, uma vez que apenas nos “limitamos” a dizer se há ou não disfunção sistólica desta cavidade. Isso ocorre justamente porque as diretrizes atuais não determinam pontos de corte para definir se a disfunção é leve, moderada ou importante.
Com um entendimento cada vez maior da fisiopatologia e da evolução das doenças da valva tricúspide*, porém, o interesse em “refinar” a avaliação ecocardiográfica das câmaras direitas tem ganhado mais destaque nas publicações médicas.
*Com o avanço das terapias intervencionistas, estudos sobre a fisiopatologia, etiologia e prognóstico das doenças regurgitantes da valva tricúspide ganharam destaque, sobretudo nos últimos 10 anos.
Seria então o momento de graduarmos a disfunção ventricular direita e, a partir disso, entendermos melhor o grau de repercussão, por exemplo, de uma regurgitação tricúspide?
Neste documento publicado no JACC em 2023 voltado para a avaliação da insuficiência tricúspide (IT) há uma ênfase na avaliação das câmaras direitas, com menção a valores de corte para graduação da disfunção do VD baseado em estudos anteriores.
Sabemos que nesse contexto (regurgitação tricúspide), há uma sobrecarga volumétrica nas câmaras cardíacas direitas, levando a dilatação do átrio direito (AD), anel valvar tricúspide e do VD. Isso resultará em deslocamento dos músculos papilares e mudança da geometria ventricular, o que, por sua vez, irá piorar a disfunção valvar, levando a um ciclo vicioso caracterizado por dilatação e disfunção progressiva do VD, com piora clínica.
A avaliação da geometria ventricular direita, além de trazer dados sobre a função, pode auxiliar na identificação etiológica da disfunção da valva tricúspide.
Por exemplo, na insuficiência tricúspide funcional atrial, o ventrículo direito passa por um remodelamento que resultará numa geometria em cone, enquanto que na IT funcional ventricular, esse remodelamento levará a um formato mais esférico do VD, com dilatação proeminente médio ventricular.
Quanto à avaliação funcional, o TAPSE permanece como um parâmetro útil uma vez que reflete o encurtamento longitudinal do ventrículo direito, mecanismo este que é responsável por aproximadamente 80% do volume ejetado desta cavidade.
Outros parâmetros podem e devem ser usados, como velocidade da onda s´, FAC e strain do VD. Contudo, como dito anteriormente, nos limitamos a dizer se existe disfunção ou não.
O presente estudo mostra uma tabela que propõe pontos de cortes para a graduação da disfunção ventricular direita.
Chegou a hora de colocarmos em prática ???
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
Muito bom e prático