Comunicação Interventricular: revisão prática – parte IV
Ana Cristina Novaes Primo “Kililiu”
Encerrando nossa revisão sobre comunicação interventricular, vamos discutir hoje sobre as do tipo “via de entrada”, que representam de 5 a 8% de todas as comunicações interventriculares (CIVs).
Esta parte do septo separa as valvas mitral e tricúspide e está localizada posterior e inferiormente ao folheto septal da valva tricúspide, se estendendo até a inserção do músculo papilar da valva tricúspide.
Está presente nos defeitos atrioventriculares, que, por sua vez, se dividem em:
Canal atrioventricular total: comunicação interatrial tipo ostium primum, defeito do septo atrioventricular e valva atrioventricular única.
Canal atrioventricular transicional: comunicação interatrial tipo ostium primum, pequeno defeito do septo interventricular parcial ou totalmente ocluído por tecido da valva atrioventricular direita ou cleft da valva atrioventricular esquerda.
Canal atrioventricular parcial: comunicação interatrial tipo ostium primum, sem defeito do septo interventricular de via de entrada, com cleft da valva atrioventricular esquerda.
Obs.: no contexto de defeito do canal atrioventricular, devemos nos referir às valvas mitral e tricúspide como valvas atrioventriculares esquerda e direita, respectivamente.
Tópicos
Eixo Longo Paraesternal
Útil para caracterização da valva atrioventricular (VAV) esquerda no contexto de defeito do septo interventricular tipo via de entrada. Podemos observar o cleft da VAV esquerda (defeito no folheto anterior), com regurgitação e/ou estenose.
https://blog.escolaecope.com.br/wp-content/uploads/2020/11/RPReplay_Final1605219906.movVídeo 1. CIV de via de entrada que se estende até a via de saída. Observamos protrusão de tecido de valva atrioventricular até a via de saída do ventrículo esquerdo e o defeito do septo interventricular. VSD: defeito do septo interventricular. LV: ventrículo esquerdo. RV: ventrículo direito. AV: valva aórtica. LAVV: valva atrioventricular esquerda.https://blog.escolaecope.com.br/wp-content/uploads/2020/11/RPReplay_Final1605219906-3.movVídeo 2. CIV de via de entrada com shunt esquerda-direita e discreto refluxo da valva atrioventricular esquerda, secundário ao cleft do seu folheto anterior.https://blog.escolaecope.com.br/wp-content/uploads/2020/11/RPReplay_Final1605219906-2.movVídeo 3. CIV de via de entrada que se estende até a via de saída, com shunt esquerda-direita e cleft da valva atrioventricular esquerda, com refluxo leve a moderado. VSD: defeito do septo interventricular. LV: ventrículo esquerdo. RV: ventrículo direito. LA: átrio esquerdo. Ao: aorta. LAVV: valva atrioventricular esquerda.
Eixo Curto Paraesternal (corte ventricular)
Útil para identificar CIVs de via de entrada (com identificação de tamanho e direção de shunts) e caracterizar a valva atrioventricular esquerda.
Útil para avaliar a presença de CIV de via de entrada, tamanho e direção de shunt interventricular, nível de implantação das valvas atrioventriculares (geralmente as valvas atrioventriculares ficam no mesmo nível de implantação, quando existe este defeito, diferente da implantação mais apical da valva tricúspide em corações normais) e presença de cleft e regurgitação da VAV esquerda.
https://blog.escolaecope.com.br/wp-content/uploads/2020/11/Meu-Filme-1.mp4Vídeo 7. CIV de via de entrada, com shunt esquerda-direita. Comunicação interatrial tipo ostium secundum, com shunt esquerda direita. Implantação das valvas atrioventriculares no mesmo nível, com refluxos discretos tanto na esquerda, como na direita. VSD: defeito do septo interventricular. LV: ventrículo esquerdo. RV: ventrículo direito. LA: átrio esquerdo. RA: átrio direito. LAVV: valva atrioventricular esquerda. RAVV: valva atrioventricular direita. ASD: defeito do septo interatrial.
Eixo Curto Subcostal (corte valvar)
O corte oblíquo anterior esquerdo subcostal é útil para avaliar as valvas atrioventriculares (se única, no defeito AV total, ou se dupla, no defeito transicional ou parcial), assim como o tamanho e a direção do shunt.
Graduada em medicina, pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). É pós-graduada em Cardiologia, pela Funcordis, e em Ecocardiografia, pela ECOPE. Possui título de Especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.