Calcificação Valvar Aórtica: além da avaliação subjetiva

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A calcificação/esclerose valvar aórtica já foi considerada como um processo natural do envelhecimento. Contudo, seus fatores de risco (idade avançada, sexo masculino, hipertensão arterial, dislipidemia, tabagismo e diabetes), bem como seus aspectos histológicos (deposição de lipoproteína, reação inflamatória crônica e ativação da cascata de calcificação) são semelhantes aos do processo de aterosclerose sistêmica.

Calcific Aortic Valve Disease: Molecular Mechanisms and Therapeutic Approaches, EUROPEAN CARDIOLOGY REVIEW

Estudos já documentaram que a calcificação valvar aórtica (aortic valve calcification – AVC) é um forte preditor de morbimortalidade na população geral, implicando em um aumento de 50% do risco de morte cardiovascular e infarto miocárdico. Ainda, está associada a uma prevalência aumentada de hipertrofia ventricular esquerda (HVE) arritmias ventriculares e disfunção ventricular sistólica.

Calcific Aortic Valve Disease: Not Simply a Degenerative Process, Circulation Volume 124, Issue 16, 18 October 2011; Pages 1783-1791

Apesar de frequentemente associada à estenose aórtica (EAo), a AVC pode existir sem que haja disfunção valvar, sendo caracterizada como com aumento da ecogenicidade em áreas focais dos folhetos, bem como espessamento destes, sem que haja restrição de mobilidade. A prevalência de AVC sem EAo significativa gira em torno de 20-30% em pacientes > 65 anos, chegando a 48-57% entre pacientes octagenários.

Diante disso, a quantificação da AVC, usando diferentes modalidades de imagem, tem ganhado interesse científico já há algum tempo. Vamos ver como a ecocardiografia pode auxiliar nesse sentido!

Um estudo (Yousry, M., Aortic valve type and calcification as assessed by transthoracic and transoesophageal echocardiography. Clin Physiol Funct Imaging, 35: 306-313. https://doi.org/10.1111/cpf.12166) comparou a acurácia diagnóstica da ecocardiografia (transtorática e transesofágica) na determinação do fenótipo valvar (bivalvular x trivalvular), bem como o grau AVC, com a avaliação intraoperatória das características da VAo.

Foram avaliados 169 pacientes, sem doença arterial coronariana significativa, submetidos a cirurgia de valva aórtica e/ou raiz de aorta. Os pacientes realizaram estudo transtorácico uma semana antes da intervenção cirúrgica e um ecocardiograma transesofágico intraoperatório.

A descrição da calcificação valvar foi feita baseado em um escore de 1 a 5, em que:

1- folhetos normais, sem evidência de espessamento ou calcificação;

2- Presença de espessamento, porém sem calcificação;

3- Calcificação leve – pequeno foco de calcificação não excedendo 1/3 da área dos folhetos valvares;

4 – Calcificação moderada – focos de calcificação não excedendo 2/3 da área dos folhetos valvares;

5 – Calcificação significativa (grosseira) – acometimento > 2/3 da área dos folhetos valvares.

Adaptado de Aortic valve classification, M. Yousry et al.

Baseado nesta classificação, os pacientes tiveram seus achados classificados, por diferentes avaliadores e de forma “cega”, através do ecocardiograma transtóracico (ECO TT), transesofágico (ECO TE) e através da análise por um software baseado em escala de cinza (ver esta postagem). Da mesma forma, durante o momento da cirurgia, o cirurgião cardíaco era questionado sobre a graduação da calcificação valvar, usando o mesmo escore, a partir da análise visual e tátil in situ.

Aortic valve classification, M. Yousry et al.

Posteriormente, tendo como referência a avaliação intraoperatória, foram comparadas as avaliações do grau de calcificação usando o escore proposto com avaliação visual subjetiva.

Ainda, foi realizado uma comparação com as avaliações feitas com imagem estática e com a imagem em movimento.

O estudo demonstrou que, comparada com a avaliação intraoperatória, a análise baseada no escore, usando imagens em movimento, apresentou uma correlação superior (ECO TT r = 0.83 e ECO TE r = 0.82) que a análise visual subjetiva (ECO TT r = 0.64 e ECO TE r = 0.63) e que a análise utilizando o software baseado na escala de cinza (ECO TT r = 0.63 e ECO TE r = 0.52) de imagens estáticas.

Aortic valve classification, M. Yousry et al.

A análise interobservador mostrou concordância, entre dois avaliadores distintos, elevada, com intervalo de confiança de 0.93 para o ECO TT e de 0.94 para o ECO TE.

A avaliação baseada na imagem estática teve o coeficiente de correlação menos favorável comparado com a avaliação da imagem em movimento (ECO TT: r = 0.64 x r = 0.83; ECO TE: r = 0.63 x r = 0.82). Isso pode se justificar pelo fato de que, por se tratar de uma estrutura tridimensional, parte do espessamento e/ou calcificação posse ser apenas visualizada durante a sístole ou diástole.

Aortic valve classification, M. Yousry et al.

A avaliação sistemática semiquantitativa através do escore de calcificação de imagens em movimento se mostrou superior à análise de imagens estáticas, com um elevado grau de concordância interobservador, conclui o estudo.

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Vinícius Nogueira Tameirão

exclente conteudo como sempre

Angélica Barros

Boa tarde meu nome é Angélica tenho 52 anos, e no meu exame ecocardiograma a médica, disse que viu uma pequena, e leve calcificação da válvula mitral, mas que não era pra se preocupar, e refazer o exame com2 anos. Estou muito preocupada

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