A manobra de Valsalva é essencial quando estamos avaliando a presença ou não de obstrução da via de saída do ventrículo (VSVE). Contudo, muitas vezes, essa manobra não é efetiva em razão da dificuldade do paciente em realizá-la (vida real, meus caros!).
Nesta situação, a dúvida sobre haver ou não obstrução da VSVE irá persistir e, em alguns casos, pode gerar a necessidade de complementação com outros métodos diagnósticos (ecocardiograma com estresse, por exemplo).
O European Heart Journal – Case Reports, na sessão cardiovascular flashlight, ilustrou um caso em que a manobra de valsalva foi realizada com auxílio de um balão de festa (isso mesmo!) para documentar o aspecto obstrutivo de uma cardiomiopatia hipertrófica.
Mulher, 81 anos de idade, já diagnosticada com cardiomiopatia hipertrófica obstrutiva por ressonância magnética (RM) cardíaca e em tratamento clínico há 04 anos, passou a se queixar de com piora da dispneia aos esforços.
Ecocardiograma transtorácico demonstrou hipertrofia septal assimétrica, com espessura do segmento basal do septo interventricular de 22.2 mm, diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo (VE) de 27.5 mm e espessura da parede posterior de 10.8 mm. Havia presença de movimento sistólico anterior (SAM) da valva mitral e aumento da velocidade do fluxo na VSVE.
Contudo, o gradiente de pico, medido pelo Doppler contínuo, na VSVE era de apenas 15 mmHg em repouso.
Ecocardiograma com esforço físico não foi cogitado em razão da fragilidade da paciente. Foram, então, realizadas manobras de valsalva convencionais em decúbito lateral e na posição sentada, com os gradientes máximos de 26 mmHg e 22 mmHg respectivamente.
Em seguida, foi pedido para que a paciente insuflasse um balão de aniversário como manobra de Valsalva. Neste momento, o gradiente de pico chegou a 50 mmHg, durante a insuflação (mesmo a paciente não tendo enchido o balão completamente).
O diagnóstico de piora da obstrução da VSVE foi realizado e os ajustes terapêuticos para melhora de sintomas foram necessários.
Insuflar um balão gera um aumento de 20-15 mmHg na pressão expiratória final dentro das vias aéreas do paciente, aumentando a pressão intratorácica e reduzindo o retorno venoso. Com isso, há uma redução do diâmetro do ventrículo esquerdo, exacerbação do SAM e aumento da pressão de pico na via de saída do VE.
É uma forma de fácil execução e de melhor compreensão por parte do paciente, sobretudo naqueles mais idosos.
E aí! Chegou a hora de ter balões de aniversário no laboratório de ecocardiografia ?
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
Obrigado, muito bom!
Pode dizer quais foram os ajustes terapêuticos?!
Parabéns pelo artigo