Amiloidose Cardíaca: estratificação de risco para formação de trombo

A amiloidose cardíaca é sabidamente uma condição que pode se associar a eventos trombóticos, contudo os fatores predisponentes para este tipo de complicação não são amplamente conhecidos.

Uma recente publicação do JASE tentou identificar parâmetros clínicos e ecocardiográficos que podem se associar a eventos trombóticos, sejam eles arterial ou venoso, em pacientes portadores de amiloidose cardíaca.

Estudo como 157 pacientes com amiloidose cardíaca sem histórico de evento trombótico ou sem indicação de terapia anticoagulante.

Journal of the American Society of Echocardiography, 2025-02-01, Volume 38, Edição 2, Páginas 135-137, Copyright © 2024 American Society of Echocardiography

O desfecho primário avaliado foi a ocorrência de trombose arterial sistêmica, trombo intracavitários, trombose em território venoso ou embolia pulmonar.

A maioria dos participantes era do sexo masculino (55%) e negros (53%). A idade média foi de 69 ± 11 anos e, dentre os pacientes analisados, 55% tinham amiloidose AL e 43%, amiloidose TTR.

No grupo de amiloidose TTR, 52% estavam em estágio II e 24% em estágio III do sistema de estadiamento do National Amyloidoses Centre ATTR.

Dos pacientes com amiloidose AL, por sua vez, 52% estavam em estágio II e 41% no estágio I pelo modelo proposto pelo AL Mayo 2004 model.

No momento da avaliação ecocardiográfica, 39% dos participantes estavam realizando quimioterapia (Qt) enquanto que 49% iniciaram Qt após o ecocardiograma de base. Ainda, 33% dos pacientes receberam transplante (Tx) de células tronco.

Durante o seguimento do estudo, 38 pacientes (24%) evoluíram com algum evento trombótico, sendo 66% destes eventos ocorridos nos primeiros 06 meses após a realização do ecocardiograma.

Dentre os eventos registrados, trombose venosa isolada ocorreu em 19% (30/157), trombose arterial isolada em 3% (5/157) e trombose venosa e arterial concomitantes, em 2% (3/157).

Ainda em relação aos eventos trombóticos, 80% (33/41) foram de etiologia venosa: 20 foram trombose venosa profunda (TVP) isolada, 3 foram trombo localizado no átrio direito (AD), 07 foram tromboses venosas em > 01 sítio ao mesmo tempo (4 TVP + embolia pulmonar, 01 TVP + embolia pulmonar + trombo no AD, 01 TVP + trombo no AD e 01 trombo em veia cava inferior + trombo em veia hepática).

Entre os pacientes que apresentaram algum evento trombótico, 20 (53%) apresentaram episódio novo de fibrilação atrial (FA) após documentação da trombose.

Em relação aos parâmetros clínicos, pior classe funcional (NHY III e IV – 74% x 47%, P = 0.004), maior prevalência de doença hepática (50% x 24%, P = 0.003), necessidade de hemodiálise (21 x 6, P 0.009) e elevação dos níveis de BNP (83 x 51, P = 0.004) se associaram à presença de eventos trombóticos, sem haver diferenças entre os subtipos de amiloidose (61% AL x 40% ATTR, P = 0.563) e entre o estágio da doença.

Esses pacientes (com evento trombótico) tinham um maior HAS-BLED comparado com os controles (3 [2,4] x 2 [1,3], P = 0.009), enquanto que o CHA2DS2-VASC não apresentou diferença significativa (P = 0.210).

Na análise univariada, o regime de Qt direcionado para amiloidose AL não se associou a um maior risco de evento trombótico (95% IC: 0.11 – 12.1, P = 0.897).

Journal of the American Society of Echocardiography, 2025-02-01, Volume 38, Edição 2, Páginas 135-137, Copyright © 2024 American Society of Echocardiography

Quanto aos parâmetros ecocardiográficos, os pacientes que evoluíram com algum evento trombótico tinham função sistólica, tanto do ventrículo esquerdo como do ventrículo direito, significativamente pior: fração de ejeção 54% x 49% (P = 0.003), TAPSE 1,7 cm x 1,4 cm (P = < 0.001), onda S´ 11 cm/s x 9.5 cm/s (P = 0.007).

Em relação aos parâmetros de função diastólica, aqueles com evento trombótico tinham maiores relações E/A (1.41 x 2.0, P = 0.10), menor tempo de desacelaração (180 ms x 149 ms, P < 0.001) e maiores volumes indexados do átrio esquerdo (34 ml/m² x 44 ml/m², P < 0.001), sugerindo um padrão restritivo com pressões de enchimento elevadas.

O strain longitudinal também apresentou-se reduzido em todos os pacientes com episódio trombótico (13% x 11%, P = 0.001).

As três variáveis que se mostraram preditoras de eventos trombóticos foram strain global longitudinal do ventrículo direito (HR = 1.13 per percent, 95% CI (1.05, 1.21), P = .0011), hemodiálise (: HR = 1.35, 95% CI (1.72, 8.70), P = .0011) e volume indexado do átrio esquerdo (: HR = 1.034 permilliliter, 95% CI (1.007, 10.63), P= .013).

Os valores médios para o strain global do ventrículo direito e para o volume do átrio esquerdo indexado foram 15.39% e 36.3 ml/m², respectivamente.

Journal of the American Society of Echocardiography, 2025-02-01, Volume 38, Edição 2, Páginas 135-137, Copyright © 2024 American Society of Echocardiography

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