Se você tem acompanhado por aqui a série de postagens sobre a ecocardiografia do esporte, percebeu que alguns conceitos importantes estão sempre sendo destacados.
Pois, bem! Chegamos então em um ponto crucial na avaliação ecocardiográfica dos praticantes de atividade física de alta intensidade: seja para diferenciar adaptações fisiológicas de padrões patológicos ou para avaliar a toxicidade induzida por esteroides anabolizantes*, a avaliação convencional tem papel muito limitado nessa população !!!
*O uso de esteroides anabolizantes para melhora de perfomance, mas sobretudo para fins estéticos é uma realidade mundo à fora. Termos como “anti aging”, “medicina integrativa”, “nutriendocrinologia”, “modulação hormonal”, entre outros, certamente não são estranhos aos nossos ouvidos atualmente. Alguns profissionais médicos passaram a utilizar essas substâncias como regra em suas práticas clínicas e esses pacientes, cedo ou tarde, irão aparecer nos ambulatórios de cardiologia (isso é um fato!)
É importante lembrar, porém, que essas substâncias não são isentas de complicações (muito pelo contrário!). Muitas delas, inclusive, apresentam potencial cardiotóxico que não deve ser menosprezado. E aqui mora o perigo!!!
Ao analisarmos esses pacientes apenas com a ecocardiografia convencional dificilmente conseguiremos detectar alterações, sobretudo nas fases iniciais do dano miocárdico, fazendo com que eles tenham a falsa impressão de que estão saudáveis do ponto de vista cardiovascular.
Não à toa, diversos artigos enfatizam a necessidade do uso de recursos avançados (leia-se strain e trabalho miocárdico) na avaliação destes pacientes.
Então vamos mostrar na prática como é o mundo real!!!
Paciente 1 – masculino, 37 anos, sem comorbidades conhecidas, praticante de Jiu-Jitsu (modalidade mista) em nível competitivo, com alta carga de treino, assintomático:
Paciente 2 – masculino, 39 anos, sem comorbidades conhecidas, praticante de jiu-jitsu (modalidade mista), com alta carga de treino, assintomático:
Apesar de uma aparente dilatação ventricular esquerda do exame do paciente 2, ambos encontram-se dentro de um padrão esperado para atletas de alto rendimento.
Quando aplicada a análise com recursos avançados, vemos que existe uma diferença de padrão entre os exames, apesar de pacientes de mesma faixa etária, sexo, modalidade esportiva e cargas de treino semelhantes.
Paciente 01 (não usuário de esteróide anabolizante) – Trabalho Miocárdico com GWE 98% e Strain Global Longitudinal 16%.
Paciente 2 (usuário de esteróide anabolizante) – Trabalho Miocárdico com GWE 94% e Strain Global Longitudinal 14%.
Mais um exemplo: paciente sem comorbidades, 35 anos, médico (!!!!), assintomático e com alta carga de treino (futebol, futevôlei e musculação). Avaliação bidimensional normal.
Percebam que para um indivíduo treinado, ele mantem uma frequência cardíaca em repouso de 83 bpm e tem um padrão de strain heterogêneo, com valores aumentados na ponta e o strain global longitudinal < 15%, ou seja, padrão patológico!
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.