Na última postagem trouxe uma meta-análise sobre a avaliação, através do strain miocárdico, da resposta terapêutica com CPAP na apneia obstrutiva do sono (AOS). E como será que o trabalho miocárdico pode auxiliar nesta avaliação?

Estudo que avaliou a performance cardíaca em relação à gravidade da AOS, bem como os benefícios da terapia com CPAP.

Foram avaliados 52 pacientes, com idade média de 49 anos, sendo 92% do sexo masculino e com com índice de apneia/hipopneia (AHI) médio de 59. Os participantes foram randomizados para tratamento com CPAP ou placebo por 03 meses.

A gravidade da AOS foi determinada pelo AHI, índice de dissaturação de oxigênio (ODI), porcentagem do tempo de sono com oxigenação < 90% (T90) e pela média da saturação de O2 durante o sono (SpO2 médio).
Índices de hipoxemia, como T90 e SpO2 média, se associaram de forma significativa com os parâmetros de trabalho miocárdico. O T90 se associou de forma significativa com o GWW (r = 0.35, p = 0.017), GWE (r = -0.37, p = 0.012) e com GCW (r = -0.45, p = 0.002).
A SpO2 média também se correlacionou com o GWW (r = -0.29, p = 0.047), GWE (r = 0.29, p = 0.048) e com o GCW (r = 0.37, p = 0.001). O AHI, por outro lado, não teve correlação com o strain global longitudinal (SGL) do VE ou com os parâmetros de trabalho miocárdico. Já o ODI apresentou correlação com o SGL do VE (r = 0.32, p = 0.048) e com o GCW (r = – 0.37, p = 0.013).

Na regressão de múltiplas variáveis, a análise incluindo sexo, idade, índice de massa corpórea, histórico de hipertensão e tabagismo, tanto o T90 quanto a SpO2 média mostraram correlação significativa com o CGW e GWW. Já a AHI e o ODI não mostraram o mesmo resultado.

Em relação à terapia com CPAP, não foram observadas diferenças em relação aos diâmetros cavitários do ventrículo esquerdo (VE), índice de massa, volume atrial esquerdo indexado e fração de ejeção (FE) na avaliação antes e após o tratamento.
A velocidade da onda E´ (0.65 ± 1.70 cm/s x – 0.61 ± 1.85 cm/s, p = 0.014) e o SGL do VE, por sua vez, mostraram melhora após o período de 03 meses de tratamento.

Não houve diferenças, ao longo do tratamento, no GWI e no GCW, porém foram observadas redução do GWW (p = 0.015) e melhora do GWE (p = 0.027) no grupo do CPAP, mas não no grupo placebo.

Os pacientes também foram avaliados durante exercício físico e em todos eles houve aumento significativo do GWI, GCW e GWW em relação ao valores basais ( em repouso), tanto nas fases de 25W e 50W. Já o GWE apresentou comportamento inverso, com diminuição do valor durante o exercício quando comparado com o valor em repouso.


Durante o exercício de 25W, não houve diferenças dos parâmetros de trabalho miocárdico entre os grupos de CPAP e controle, porém após 03 meses de tratamento da AOS, o GWW diminuiu de forma significativa no grupo intervenção comparado com os valores antes do tratamento (190.8 ± 99 x 140.7 ± 58,2, p = 0.023), estando significativamente menor em comparação com o grupo controle (193.8 ± 99 x 140.7 ± 58.2, p = 0.035).
Não houve diferenças no GWE antes e depois do tratamento em ambos os grupos, porém o magnitude da diferença foi significativamente maior (p = 0.021).


Após exercício de 50W, não houve alterações pré e pós-tratamento nos parâmetros de trabalho miocárdico entre os grupos controle e intervenção, apesar de ter havido diferenças nos valores de GWW e GWE entre eles.
Os achados principais deste estudo incluem que (1) em pacientes com AOS importante, a gravidade da hipoxemia foi o parâmetro que mais se associou com a avaliação da performance cardíaca ao invés do AHI; (2) o tratamento com CPAP, após 03 meses, melhorou a performance do coração determinada pela diminuição do trabalho desperdiçado e melhora da eficiência global; e (3) houve aumento do GWW e redução do GWE durante o exercício naqueles pacientes com AOS importante, com melhora desses parâmetros (ou seja, diminuição do GWW e aumento do GWE) após o período de tratamento com o CPAP.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN) e em Cardiologia pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.