Através do Modo M (de movimento), ou unidimensional, as imagens são obtidas por um único cristal do transdutor e os pontos luminosos são colocados em movimento pelo deslocamento horizontal da tela, de forma semelhante ao registro eletrocardiográfico. Esta modalidade é útil para determinar as dimensões das cavidades e espessura das paredes, em virtude da alta resolução de sua imagem, decorrente da alta frequência de repetição de pulsos.
Com o advento do modo bidimensional, este modo vem sendo utilizado com menor frequência, contudo sem deixar de ser uma estratégia de extrema importância nos diagnósticos ecocardiográficos.
Separamos aqui algumas alterações clássicas detectadas através do Modo M e que ajudam a definir o diagnóstico de várias entidades clínicas no dia a dia do ecocardiografista.
Tópicos
1- Acometimento Reumático da Valva Mitral
O acometimento reumático crônico da valva mitral provoca espessamento e calcificação das cúspides, com fusão das comissuras e comprometimento do aparelho subvalvar. O Modo M evidencia a movimentação característica das cúspides da valva mitral, com o folheto anterior espessado e retificado, e o folheto posterior acompanhando a movimentação anterior durante a diástole.
Achados clássicos
Espessamento dos folhetos; extrema retificação do segmento E-F da cúspide anterior; cúspide posterior acompanhando o movimento da cúspide anterior durante a diástole.
O Modo M da valva mitral reumática pode auxiliar na definição do Score de Wilkins (Opa!!! você lembra como esse Score é calculado? Um bom tema para uma próxima postagem!).
2- Prolapso da Valva Mitral
Ao Modo M, o prolapso da valva mitral exibe redundância da cúspide em relação ao diâmetro do ventrículo esquerdo, o movimento posterior da valva e o espessamento dos folhetos (sobretudo nos casos de degeneração mixomatosa).
Um outro recurso possível é o Modo M colorido, através do qual pode-se avaliar em que fase do ciclo cardíaco o refluxo mitral ocorre, nos casos em que o prolapso mitral é acompanhado de insuficiência valvar.
3- Insuficiência Aórtica
Nos casos em que o refluxo valvar aórtico incide sobre a valva mitral pode haver uma vibração diastólica (chamada de flutter) da cúspide anterior, bastante característica ao Modo M.
4- Miocardipatia Hipertrófica
O movimento sistólico anterior da valva mitral pode ser observado pelo corte longitudinal paraesternal e pela abordagem apical 4C. Nota-se um alongamento do folheto anterior e sua movimentação encurvada na direção do septo, que, juntamente com a anteriorização de todo o aparelho valvar e subvalvar, contribui ainda mais para a obstrução dinâmica da via de saída do ventrículo esquerdo.
5- Amiloidose Cardíaca
A amiloidose constitui o exemplo mais comumente encontrado de infiltração miocárdica e proporciona a observação característica de textura em camada ao Modo M, o que dificulta a escolha da linha correspondente ao endocárdio, assim com na face esquerda do septo interventricular.
6 – Miocardiopatia Dilatada
Ao Modo M, vários aspectos são característicos:
- Distância do ponto E da valva mitral e septo
- Valva mitral posteriorizada
- Hipocinesia da raiz da aorta
- Colapso sistólico da valva aórtica
- Hipocinesia do septo e da parede inferolateral do ventrículo esquerdo
6- Miocardipatia Isquêmica Segmentar
Após um insulto isquêmico com fibrose miocárdica, pode-se notar maior ecorrefringência e afilamento do segmento miocárdico acometido.
7- Derrame Pericárdico
O derrame pericárdico se mostra como um espaço ecolucente (anecóico ou livre de ecos) anterior ou ventrículo direito e/ou posterior ao ventrículo esquerdo, além do envolvimento de ambos os ápices ao subcostal ou apical 4C.
Também pode ser observado o movimento anômalo do septo ventricular: pequeno deslocamento posterior seguido de anteriorização na protodiástole, que constitui, em última análise, a tradução da curva em raiz quadrada obtida da hemodinâmica, ou seja, restrição abrupta ao movimento da coluna sanguínea com deslocamento do septo para a direita ou para a esquerda, dependendo do jogo de pressões entre as cavidades (comumente encontrada na pericardite constritiva).
8 – Hipertensão Pulmonar
Há muitos anos que a ecocardiografia vem sendo utilizada para o diagnóstico e acompanhamento da HAP. Inicialmente, a avaliação qualitativa da HAP era feita pelo modo M e pelo modo bidimensional. Os sinais demonstrados no modo M decorrem da elevação desproporcional da PAP diastólica, em relação ao aumento da pressão diastólica no VD.
Assim, o sinal mais comumente encontrado é a diminuição ou ausência do entalhe da contração atrial sobre o traçado da valva pulmonar. Este sinal, embora clássico, é pouco específico, podendo ocorrer em outras situações, como arritmias cardíacas ou uso de marcapasso. Um outro sinal, considerado mais específico, mas com baixa sensibilidade, é o entalhe mesossistólico do modo M da valva pulmonar, o qual é encontrado nos casos com HAP mais importante.
Convém salientar que o registro da movimentação dos folhetos da valva pulmonar é difícil em adultos, devido ao mau alinhamento do cursor do modo M e à interposição do parênquima pulmonar. Além disso, usualmente, somente um folheto pode ser demonstrado.
Espero que tenha gostado dessa rápida revisão de imagens clássicas do Modo M. Se você gostaria que algum tema fosse abordado aqui no blog, entre em contato através de nossos canais e faça sua sugestão!
Para mais conteúdo como esse, continue acompanhando nosso blog!
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.
Excelente revisão! Obrigado por compartilhar e parabéns pelo artigo bem didático e explicativo.
Muito obrigado, Luiz
Excelente!!!
Boa tarde.
Gostei muito dessa revisão e gostaria de usar algumas informações e imagens dela, devidamente citadas em meu trabalho de conclusão de curso.
Como poderia conseguir a autorização.
Olá, Miguel. Tudo bem? Fico feliz em saber que o conteúdo o ajudou. Pode ficar à vontade para usar as imagens aqui do blog. Afinal, conhecimento bom é conhecimento compartilhado!!! forte abraço