A poliangeíte granulomatosa (também conhecida como Granulomatose de Wegener) é uma doença de caráter autoimune caracterizada por vasculite granulomatosa necrotizante que envolve, sobretudo, os tratos respiratório superior e inferior, além dos rins.
O envolvimento cardíaco por ocorrer em até 44% dos casos e a forma de acometimento mais comum se dá por pericardite (50%), contudo miocardite, endocardite e alterações do sistema de condução (por infiltração granulomatosa) também são descritas na literatura.
Normalmente a pericardite se apresenta de forma subclínica, com presença de derrame pericárdico leve, sendo raro os casos de derrames volumosos com tamponamento cardíaco.
O derrame pericárdico pode se desenvolver independentemente da vigência de disfunção renal, indicando que a uremia não é sempre o fator causador desta alteração.
As pericardites relacionadas às vasculites são classificadas como “autoimunes” e são mais comumente encontradas nas vasculites de pequenos e médios vasos (Kawasaki, poliangeíte granulomatosa eosinofílica e granulomatose de Wegner´s).
É mais frequente entre homens, idade média de acometimento por volta dos 48 anos de idade, e os sintomas mais comuns, quando presentes, são tosse com ou sem hemoptise, febre, dor torácica e dispneia.
Á ecocardiografia, o achado mais frequente é o surgimento de novo derrame pericárdico ou piora de derrame previamente existente.
CASO 01:
Mulher, 44 anos, admitida no pronto socorro com queixa de dor torácica tipo pleurítica, dispneia e febre, iniciados durante sessão de hemodiálise. Ao exame, presença de atrito pericárdico, sem sinais de congestão sistêmica ou pulmonar.
TC de tórax demonstrou presença de novo derrame pericárdico circunferencial moderado a importante.
Ecocardiograma evidenciou derrame pericárdico moderado, veia cava inferior com diâmetro aumentado, porém sem sinais de tamponamento cardíaco.
Realizado ajuste de terapia imunossupressora e iniciado tratamento direcionado para pericardite. A paciente evoluiu com melhora sintomática, porém com recidivas frequentes quando da tentativa de realizar desmame de corticoide.
CASO 02:
Homem, 63 anos, iniciou acompanhamento especializado para investigação de derrame pericárdico. Tinha histórico de otite média de repetição, resistente à antibioticoterapia e ao uso de corticoide, e perda ponderal não intencional nos últimos 5 anos.
TC de tórax demonstrou derrame pericárdico moderado a importante, com presença de movimento assicrônico do septo interventricular.
Ecocardiograma confirmou presença de derrame pericárdico moderado a importante, contudo sem evidências de tamponamento cardíaco.
O paciente foi submetido a pericaridocentese, com drenagem de 400 ml de líquido exsudativo. Ecocardiograma de controle demonstrou persistência de derrame pericárdico moderado (1.8 cm) adjacente às câmaras direitas.
Iniciado terapia para pericardite, o paciente persistiu com sudorese noturna, sendo admitido uma mês depois com febre e fraqueza muscular proximal. Novo ecocardiograma demonstrou pequeno derrame pericárdico.
Após investigação, foi confirmado diagnóstico de poliangeíte granulomatosa. Iniciado terapia direcionada (prednisona, ciclofosfamida), o paciente persistiu sintomático e RM cardíaca evidenciou aumento da espessura do pericárdio (2-3 mm) com realce tardio consistente com pericardite em atividade. Após ajuste medicamentoso, o paciente apresentou boa evolução e redução do realce e derrame pericárdicos na RM de controle após 4 semanas.
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.