Medicina e culinária sempre apresentaram uma relação muito próxima (os patologistas que o digam!) e na ecocardiografia não poderia ser diferente.
A grande estrela é a famosa “cereja de bolo” que faz referência ao padrão de apical sparing em que há redução do strain longitudinal nos segmentos basais e médios, preservando o ápice.
E quando falamos na cereja, nos vem à mente logo uma associação com amiloidose cardíaca. Contudo, é importante ressaltar que este achado não específico para esta patologia, podendo estar presente em outras condições, tais como doença renal crônica, estenose aórtica e toxicidade por esteroides anabolizantes.
Ainda dentro da amiloidose cardíaca, a infiltração miocárdica presente nesta doença faz com que o músculo cardíaco, ao modo M, apresente uma textura em camada a qual é denominada como padrão em “casca de cebola”.
Outra fruta que pode ganhar espaço na ecocardiografia é o mirtilo (blueberry). A variante apical da cardiomiopatia hipertrófica, cuja característica é a presença de uma hipertrofia predominante da região apical do ventrículo esquerdo, pode apresentar um padrão denominado “blueberry-on-top”.
Ocorre pelo desarranjo miofibrilar nos segmentos apicais, com maior quantidade de tecido conjuntivo frouxo e fibrose, impactando diretamente na geração das forças de contração. Este padrão é observado quando feita a análise do “time do peak strain“, enquanto que a análise do strain de pico sistólico (peak systolic strain) mostra o padrão de “amiloidose invertida“.
O time to peak strain parece ser uma ferramenta mais robusta nos pacientes com MCPH apical ao documentar uma perda de sincronismo contrátil nas regiões apicais, refletindo uma maior dispersão mecânica.
É importante ressaltar, contudo, que esse padrão de blueberry on top não é específico de CMPH apical e pode ser observado na cardiomiopatia isquêmica com acometimento apical (aneurisma, discinesia).
E aí, quais outros exemplos poderíamos citar por aqui relacionando achados ecocardiográficos com à culinária ??
Graduado em medicina pela Universidade Potiguar (UnP). Possui residência em Clínica Médica, pelo Hospital Universitário Onofre Lopes – HUOL (UFRN), e em Cardiologia, pelo Procape – UPE. Porta o título de especialista em Cardiologia, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). E é pós-graduado em Ecocardiografia, pela ECOPE.